A festa da menina morta


Carol Ortiz
cacal.ortiz@hotmail.com

O mais novo filme de Matheus Nachtergaele na direção provoca uma sensação de incômodo e desconforto, mas é interessante. É um filme forte, denso, provocante e que prende o público do início ao fim, coisa que é um pouco raro (mesmo com essa nova e ótima safra) no cinema nacional.
Daniel de Oliveira é Santinho, um personagem tido como santo do local, mas que na realidade vive uma vida oposta, cheia de chiliques, impaciência e coisas mundanas. Perfeitamente representado, longe de exageros, podemos dizer que sua interpretação está à beira do teatral, mas distante do caricato. (quase um dos melhores papéis de sua carreira – se não fosse pelo emocionante e sensível Cazuza).
Numa comunidade amazônica, uma menina desaparece na região, e tempos depois, um cachorro traz farrapos do que restou da roupa da criança e entrega à Daniel (Santinho), que ganha fama de santo por se comunicar com o espírito da menina. Porém, conforme já foi dito acima, essa não seria exatamente a pessoa perfeita para ser canonizada – além das crises histéricas, ele também usa vestido e vive uma relação incestuosa com o pai. Um ponto interessante na narração, é que o filme consegue mostrar os hábitos, costumes, valores, etc., da população local.
Apesar de ter uma crítica não tão favorável, pois alguns alegam principalmente que a cena sutil de incesto não deveria existir, o curta merece crédito. A fotografia é de Lula Carvalho e é maravilhosa. A equipe técnica é muito competente. Jackson Antunes e Cássia Kiss merecem atenção.
Mas, o crédito mesmo talvez deva ser da mistura de emoções que essa obra é capaz de despertar no telespectador. Um misto de incômodo, repulsa e aceitação, entre outros sentimentos ambíguos, após sair das salas.

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