97ª Semana Euclidiana: mais do mesmo


Fabio Missura – professor de História

Noventa e sete anos de Semana Euclidiana, quase um evento centenário. A sua longevidade mostra a importância da manutenção das tradições, mas mesmo os eventos tradicionais têm que passar por momentos de renovação para manterem-se de pé. E o que está acontecendo nos últimos anos em relação à Semana Euclidiana é a manutenção da mesmice. Todo ano é o mesmo arroz com feijão, palestras repetitivas e cansativas, com os mesmos títulos. Não estou aqui discutindo a qualidade dos palestrantes, mas sim a repetição das mesmas falas em suas palestras a cada ano - alguns contam a mesma piada há 6 anos. “Por que Euclides isso, Euclides aquilo, Euclides assim, Euclides assado”. É uma overdose de Euclides da Cunha! E essas palestras, por serem cansativas, acabam jogando contra a obra do autor, pois os alunos que assistem a elas saem do evento odiando, não o palestrante, mas Euclides da Cunha. Algumas chegam a ser primárias, parece que o orador buscou na internet o resumo da biografia do autor e ficou vomitando sem parar as mesmas palavras nos ouvidos dos incautos que, por obrigação - como é o caso de muitos alunos universitários que participam da Semana - formam a platéia.
Lembro-me de uma palestra da qual participei ainda como estudante do curso de História da FEUC, em que um “euclidianista” ficou tecendo comentários sobre a “formosura do bigode de Euclides da Cunha”. Nunca me esqueci disso... O palestrante parecia ter um orgasmo enquanto falava do “gracioso peludo”!
A Semana Euclidiana virou um evento vazio devido à mesmice. Perdeu importância no cenário estadual e nacional. Tornou-se um evento local mantido por meia dúzia de intelectuais que se sentem envaidecidos por terem a oportunidade de exibirem algum conhecimento sobre Euclides da Cunha.
Outro aspecto que torna a SE um evento sem importância é a falta de envolvimento da população, que não participa das palestras e reclama que os demais eventos são muito mal divulgados. Onde estavam os cartazes, mesmo? E este ano chegou-se ao cúmulo de iniciar a Semana com uma missa... Pelo andar da carruagem, no ano que vem vão tentar canonizar Euclides da Cunha!!! O que tem a ver Protógenes Queirós com literatura? Qual o nome de expressão literária que participou da Semana Euclidiana este ano? Na minha opinião, o único evento que valeu a pena assistir, com exceção da meia hora perdida com a enumeração das autoridades presentes, foi abertura que ocorreu no Recanto Euclidiano.
Enfim, São José, a cada ano, perde uma ótima oportunidade de realizar um grande evento literário, tendo como pano de fundo Euclides da Cunha, mas do qual participem nomes VIVOS da literatura brasileira que possam vir divulgar suas obras. Algo que, sem dúvida nenhuma, seria muito mais produtivo culturalmente do que a Semana Euclidiana em seu formato atual. Euclides, com certeza, apoiaria essa idéia. Vamos deixá-lo descansar em paz no seu jazigo à beira do rio Pardo.

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