20 anos sem Raul


Carol Ortiz
cacal.ortiz@hotmail.com

O que Raul tinha (e ainda tem) que muitos não conseguem? É fácil mencionar um ídolo do rock adorado por metaleiros, ou um sambista amado por apaixonados por samba, ou um maluco beleza cultuado entre os bichos grilos. Cada tribo tem seus deuses.Já Raul veio ao mundo da música para provar que nada é do jeito que sempre é.
Você pode estar numa roda de samba e ouvir Raul, num show de heavy metal e ouvir Raul, num encontro sertanejo e ouvir Raul, em São Tomé das Letras esperando a aparição do ET de Varginha e ouvir Raul.
O grande diferencial desse músico/ poeta é exatamente essa flexibilidade de gêneros. Ele é um dos únicos capaz de agradar gregos e troianos. Talvez venha daí a origem da sua imortalidade. Há 20 anos e alguns meses, morria Raulzito, o maluco beleza. Segundo sua biografia, desde cedo sempre teve contato com livros. Como um ávido leitor, não demorou muito a se interessar por filosofia (a base da maioria de suas canções). Schopenhauer e Nietzsche foram seus grandes influenciadores na fase bicho grilo. Uma de suas maiores pregações (se é que podemos dizer dessa forma), foi a idéia da Sociedade Alternativa. Na época era fã de Aleister Crowley, um estudioso do ocultismo que criou a doutrina Thelema (idéia que prega que o ser humano está distante da sua condição divina por não ter consciência desse estado devido à idéia de pecado, vícios, egocentrismo, etc. Para se buscar esse conhecimento é necessário ultrapassar os limites individuais através da experiência).
Dessa forma, nasceram letras revolucionárias como Sociedade Alternativa, Gitã e tantas outras. Foi então que Raul se aproximou do hinduísmo e da filosofia oriental.
Quem quiser se aprofundar mais no assunto Raul Seixas, leia a biografia Luar aos avessos do jornalista Angelo Satre, mas quem quiser apenas chorar os 20 anos de ausência desse maluco, basta lembrar que ele é ainda o pai do discurso libertário no Brasil (talvez venha daí a sua imortalidade: todos nós, não importa a tribo, temos em comum o desejo da mais pura liberdade).

Nenhum comentário: