EMÍLIO ANTÔNIO DUVA
Desnecessário descrever quem foi, em nossa cidade, o Sr. Rodrigues de Melo – nosso querido Velau. Exímio chaveiro; fez desta arte sua feliz e modesta sobrevivência. Homem simples, amigo dos amigos, sincero e transparente. De hábito conhecido do pessoal da roda e da bola, nosso mestre Velau foi quem revelou para o Brasil e para o mundo craques como Zanatta, Rondinelli, Armando, Ocanha e outros.
Mesmo já gordinho, mas com elegantes cabelos brancos e olhos azuis, fazia sempre, nosso sábio mestre, muitas pessoas atentarem ao seu conhecimento e narrativas. Certa vez, ao lado de um badalado bar de um dos nossos estádios de futebol, estava ele comentando sobre Zizinho, Domingos da Guia, Pelé e Zico (todos vestiram o manto sagrado, e, também a camisa do seu Mengo querido). Fatos curiosos e interessantíssimos entretinham os ouvintes de todas as idades que por ali circundava.
Até que num dado momento, um jovem aproximou-se dele e perguntou:
- Senhor Velau, o senhor já jogou no Flamengo?
- Sim, há muito tempo tive está honra.
- Mas com essa barriga? Indagou incrédulo o jovem.
Velau, então, fitou-lhe bem os olhos, e em seguida perguntou sua idade. Ao que o mancebo respondeu:
- Tenho 14 anos.
- Pois bem meu jovem. Retrucou.
- Você já é um ignorante, quando tiverdes seus 40, 50, ou mais, será um super ignorante. Em 1993 fomos, mais uma vez, à Cidade Maravilhosa ciceroneados por um dirigente da CBF, em carinho prestado ao mestre Velau pelos seus préstimos ao futebol nacional. Quanta honra.
Na ocasião, Velau acabara de sofrer um desgraçado incidente à beira de um campinho de futebol, num sítio na zona rural de São José do Rio Pardo, que lhe custou à perda da visão esquerda.
A barra de um pé de cadeira, em falso, foi direto ao seu olho ferindo-o gravemente e, posteriormente o deixando cego.
Ele foi socorrido, medicado, operado, e muito bem tratado pelo Dr. Hernani e equipe, mas pouco adiantou. Lastimável.
Fiquei incumbido, na época, de hospedá-lo em minha residência para os possíveis cuidados de enfermagem (minha esposa é enfermeira). Todo carinho possível dispensado àquele manager do futebol.
Bom, e lá no hotel Riviera (praia de Copacabana) nosso bom velhinho dirigiu-se para o primeiro almoço. Almoço este ofertado, com uma única condição: servir-se uma única vez. O cardápio era arroz branco com feijão preto (bem carioca mexxxxxmo), arroz tropeiro com feijão carioca (que o carioca mexxxxxmo não saboreia, só os... paulistas), contrafilé acebolado, carne de panela, batata à dorê no alho porró, batatas fritas, purê de mandioquinha-salsa, ovos fritos e saladas de verduras. Uma bela refeição (tipo mata-fome) para ninguém reclamar, mas uma única vez. Velau sentou-se no primeiro bloco da primeira mesa, e mãos à obra. Um garçom alegre e comunicativo logo fez amizade com ele, mas exclamou sobre seu apetite. Mas o mestre não perdeu a pose:
- Meu médico mandou que me alimentasse bem. Não fujo de suas ordens, por causa do ferimento no olho esquerdo.
No outro dia, repete-se o almoço, porém mais concorrido - havia mais hospedes. Velau então parte para a segunda vez, no último bloco da mesa, e, na última cadeira.
Manda ver, ou melhor... comer. Nesse instante, o mesmo garçom aproxima-se e lhe diz que ao se servir pela segunda está transgredindo as ordens do refeitório. Velau, então, responde:
- Querido garçom, agora eu estou cuidando do meu olho direito, porra!
Na próxima edição: Ave César, o Maluco.
Velau, Mauro Scoqui, Tio Mário, Mulato e Jozé Luís