Eu e o Futebol: Craques e larápios


Emílio Antônio Duva

Em meados de 1991, dirigi-me à bela cidade do Rio de Janeiro dos Tiros do Ano Todo, mais precisamente para praia de Copacabana.
Lá encontrei com o paranaense Raul Plasmann, que tentou fazer sucesso em São Paulo, mas estourou mesmo como jogador em Minas Gerais, na condição de goleiro do Cruzeiro. Com vasta cabeleira alourada e camisa amarela cintilante, mais parecia um artista pop do que o arrojado goleiro.
Logo depois, tornou-se campeão mundial pelo Flamengo, onde viria encerrar sua carreira, com jogo-festa-despedida anunciada pela Rede Globo de Televisão e transmitida ao vivo para todo o Brasil.
Certa vez nosso referendado goleiro faturou os 13 pontos na lotérica, comprou carro conversível, divorciou-se da esposa, curtiu a vida loucamente e, por fim, acabou comentarista de esportes da TV Globo.
Mas, lá na praia mais famosa do mundo, depois de uns goles de água de coco e tulipas de chopp’s ele contou-me algumas histórias.
Disse que nos tempos de Cruzeiro tinha um amigo chamado Brito, zagueiro tricampeão do Mundo. E numa viagem à Caracas determino que enchesse a banheira do quarto onde estavam hospedados de água gelada (naturalmente daquelas montanhas) com uma caminhonete de latas de cerveja marca Polar. Depois de vazia, ele se emocionava e telefonava para esposa e dialogava com Boris, um pequinês de estimação:
- Boris, meu querido, tudo bem com você?
- Au, au.
- Fique bonzinho. Levarei um presentinho pra você, tá bom?
- Auuu auuu
- Ah que bom que você gostou. Tchau Boris... puxa que saudade.
- Au, au
Raul disse-me também que teve muitos colegas sérios, bons de bola e alguns malucos... Mais uma tulipa, uma água e um petisco, e, mais uma história...
Contou-me de um outro ex-atleta que tinha o apelido de Sombra. Um esforçado jogador, mas que não tratava a bola com muita habilidade como aqueles craques do Cruzeiro, mais forte como um cavalo e cleptomaníaco.
“Roubava tudo e quase todos”, de talhares de avião até cortinas de quartos de hotel. Era impressionante sua avidez por qualquer objeto.
“Fomos jogar em Londrina (PR), chegamos ao hotel e vimos logo na entrada um bolo de casamento, com aqueles bonequinhos em cima.
Tudo confeitado e enfeitado para uma grande festa. Subimos para preleção do técnico e, duas horas depois, passamos por lá e o bolo não estava mais no local e os bonequinhos jogados em um canto. Achei estranho, e pensei: que festa rápida...” Depois do jogo, e no avião de volta, Raul toma uma cutucadinha nas costas:
- Alguém quer bolo?
“Como o Sombra furtou aquele bolo e o colocou na mala, foi obra de um artista?” Coisas do futebol, coisas da vida.

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