Eu e o Futebol: Heleno de Freitas Parte I


Emílio Antônio Duva

Prezados leitores, com enorme satisfação, honra e carinho narro hoje um pouco da história de um jovem chamado Heleno de Freitas. O Heleno, que nunca teve outro igual. O Heleno elegante, culto e eterno temperamental. O primeiro, depois dele.. Almir, Edmundo, Serginho Chulapa, e tantos outros.
Viveu entre o sucesso e a loucura. Padeceu aos 39 anos... Uma carreira futebolística meteórica, mas de enorme e reluzentes casos e caos. Nasceu em São João Nepomuceno (MG) no dia 12 de fevereiro de 1920 e morreu no dia 9 de novembro de 1959, há precisamente 50 anos.
Criado no seio de uma família abastada, agropecuaristas e negociantes de café, foi um garoto de gestos tímidos, zelado e imposto a muitas leituras.
Aos 13 anos de idade muda-se com sua mãe e irmã para o Rio de Janeiro, onde malandros se vestiam de branco, camisa de listras e chapéu social, tipo panamá. Adapta-se rápido ao novo mundo. Freqüentador das praias e de quase toda orla carioca – adere ao futebol de praia. Com seus 1,84 de altura, cabelo sempre carregado com glostora (lembram-se?), levemente perfumado e de andar cadenciado, destaca-se, também, diante as dondocas. Adorava as praias, embora não soubesse nadar.
E neste mister de futebol ele acaba sendo descoberto por Neném Prancha, um técnico e olheiro de futebol. Heleno já demonstrava habilidade com a bola e pouca paciência com deslealdades e provocações dentro de competições desportivas.
Começa nos aspirantes do Fluminense, mas a porta principal para a sua carreira como atleta foi o Botafogo, onde se tornaria ídolo. E aqueles românticos anos 40, Heleno de Freitas botou pra quebrar. Já nestas condições tornou-se arrogante, polêmico e sempre nervoso com alguma coisa à sua frente.
Advogado formado, galã e leitor assíduo de Dostoievski (escritor russo, considerado um dos maiores romancistas da literatura e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos). Fã de do músico e compositor Cole Porter e da cantora Billie Holiday. Assimilava a tudo, e não compreendia a todos. Perdeu amizade com Nilton Santos num treino, só porque levou um drible com duas gingadas de corpo. Sentiu-se humilhado, virou as costas e nunca mais conversou com Nilton.
Nosso saudoso Velau, já na época defendendo a camisa do Flamengo, contou-me que certa vez telefonou para a secretaria do clube alvinegro, no final de 1947:
- Alô, é do Botafogo?
-Sim.
- Por gentileza, quem fala?
- Aqui é o Heleno.
E Velau, quase que distraidamente pergunta:
- Que Heleno?
- Ora, que Heleno?! O de Freitas. E quem fala do outro lado?
- Aqui é o Velau.
- Ah sei, o reserva...
Heleno de Freitas receberia o apelido de Gilda, personagem da atriz Rita Hayworth, pelos seus “torcedores inimigos”, devido à semelhança de seu gênio igual ao filme “Bonita como Nunca”. E realmente o deixava muito, mais muito irado. Suspeitava-se, na época que algo em sua cabeça estava desordenado.
Uma fatídica sífilis o atormentava... o que levaria a óbito.
Pelo Botafogo, jogou 305 partidas, marcou 251 gols. E neste afã, na vida louca que já levava, junto com os amigos, Carlinhos Niemeyer, Ibrahim Sued, Jorginho Guinle, Baby Pignatari, Jorge Dória, Sérgio Porto e outros playboys da época, fundaram o famosíssimo Clube dos Cafajestes.
Na próxima edição continuaremos com outras histórias de Heleno de Freitas, um craque, uma pessoa como nunca houve outra igual.

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