CINEMA



Catherine Deneuve: A bela da tarde

Marco Antônio Soares de Oliveira
Escritor e jornalista

Catherine Deneuve, a deusa máxima das telas francesas, em l965, esteve rapidamente em São Paulo, para lançar seu filme "Os Guardas Chuvas do Amor", de Jacques Demy, "Palma de Ouro" no Festival de Cannes. Fui correndo para a "coletiva" na Terrazza Martini. Era primavera e a atriz brilhava com toda sua beleza naquela tarde fazendo jus ao título de seu filme "Belle de Jour" lançado posteriormente.
Naquela época, com 22 anos, em pleno vigor da juventude Catherine me encantou, além dos dotes naturais (eu estava em plena mocidade também), pela educação e inteligência. A loirinha que nasceu em Paris (França) estreou na tela aos 13 anos no filme "Les Collegiènnes". Seus principais filmes foram: Repulsa ao Sexo (65), A Bela da Tarde (67), O Último Metrô (80), Fome de Viver (83), Indochina (92), Minha Estação Preferida (93), O Convento (98). East West (99) e Dançando no Escuro (2000).
Como cinemaníaco e principalmente fã, me soltei todo. Já fui perguntando sobre o filme e o diretor. Simpaticamente me respondeu que tratava-se de uma história do amor perdido, ousado por ser inteiramente cantado (canções e textos de Demy e Michel Legrand). "O Diretor Jacques Demy é excelente, além de ter sido um bom amigo. Ele revelou-se internacionalmente pelo seu amor a musicais como este filme “Os Guarda-chuvas do Amor". É a história de um jovem que retorna da guerra da Argélia e reencontra a namorada, que deixara grávida e que se casara com outro. Os diálogos são todos cantados”.
Recentemente Catherine Deneuve está revelando este seu outro lado, que é de cantora. Aceitou convite para gravar um CD de uma produtora fonográfica.
A sua segunda vocação já estava incrustada nesse filme de 64. O meu interesse por cinema era demasiadamente grande que avancei nas perguntas. Catherine, que nasceu Dorléac, sempre viveu numa atmosfera artística. Seus pais eram atores. No início fez cinema acidentalmente. Adotou o sobrenome da mãe, Deneuve, para que não se fizesse confusão com o sobrenome do pai, Dorleác, usado pela irmã Françoise, também atriz que morreu em 1967. Admiradora de Carole Lombard, Katherine Hepburn, Julie Cristie, Catherine, assim como Truffaut, acredita que o cinema de autor tem seus dias contados. "Como já falei, vivemos uma crise de criação. Os artistas, ao contrário, tentam sempre se superar. Eu mesma, apesar de ter feito bons trabalhos, ainda não fiz meu grande filme. Ainda bem que não! O artista deve sempre olhar o futuro, desejar sempre o melhor." E nesse seu olhar existe um lugar para a política? "Não gosto de me manifestar politicamente. Já assinei documentos a favor do aborto e pela liberdade do Chile. Mas fiz isso porque são causas em que acredito.” E no mundo dos negócios? Catherine acredita? "Essa história de desenhar jóia aconteceu por acaso. Já havia recebido várias propostas para fazer campanhas publicitárias usando meu nome ou meu rosto, mas sempre recusei. Agora é diferente, porque não estou cedendo minha imagem para ser veiculada junto a um produto, mas estou fazendo um trabalho do qual gosto e para o qual acredito que tenha talento".
Ela voltou ao Brasil em 1984 como uma senhora de negócios, perpetuando em jóias uma das iniciais mais famosas do cinema, CD, a convite da H.Stern. Nem mesmo a agenda sobrecarregada de desfiles, coquetéis, filmagens, coletivas à imprensa, conseguiu tirar-lhe a calma. Repetiu várias vezes que gostaria de ficar mais tempo em São Paulo. "Pretendia caminhar pelas ruas, ver as pessoas. Deve ser muito interessante. Esse tipo de cidade me atrai." Pode vir Catherine, serei seu cicerone fiel.

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