Essas maravilhosas mulheres e seus textos fantásticos
Marco Antônio Soares de Oliveira
Escritor e jornalista
Foi a partir do século XX que as mulheres começaram a partilhar suas idéias com os homens. Susan Sontag (l933-2004), após sua morte, em dezembro, é que foi exaltada como a principal intelectual da América. Poucas chegaram ao topo. Ela sempre foi uma mulher de esquerda e muitos de seus pronunciamentos - sua defesa de vietnamitas do norte que torturavam americanos, sua caracterização da "raça branca" como "câncer da história", sua insistência de que os EUA foram os culpados pelo 11 de setembro - fizeram muita gente estremecer. Poucas mulheres se atreveram a tanto, como Camille Paglia, libertária dos anos 60, que criou polêmicas e questionou o "status quo" do norte-americano. Na França, veio em sua rasteira, a filósofa existencialista Simone de Beauvoir, mulher de Jean Paul Sartre, que foi uma peça fundamental para se começar a pensar e combater o preconceito que se tem com a figura feminina. O seu livro, "O Segundo Sexo" foi uma defesa da mulher transformada em objeto do homem. Também sua compatriota, antes, no século XIX, em pleno "Romantismo", Aurore Dupin, usando o pseudômino de George Sand (pois na época não era permitido a mulher escrever) tinha abalado a estrutura burguesa freqüentando os cafés parisienses, usando calças compridas e abusando do fumo e do álcool. Ainda mais, experimentando temas exóticos como reencarnação e socialismo.
No Brasil, uma das primeiras mulheres a abalarem a estrutura familiar foi Pagu. Patrícia Galvão, a musa do Modernismo, roubou de Tarsila do Amaral (pintora modernista) o poeta Oswald de Andrade e com ele se casou no Cemitério da Consolação, em São Paulo. A minissérie global "Um Só Coração" mostrou-nos cenas da época. Leila Diniz, no cinema fez bastante sucesso e foi a primeira mulher grávida, que apareceu na praia de Ipanema com a barriga de fora. Foi um escândalo para a sociedade brasileira. Outras mulheres intelectuais: a poetisa Cecília Meireles considerada pela crítica como a mais alta expressão da poesia feminina brasileira, e situa-se inegavelmente entre os mais altos valores da literatura de língua portuguesa do século XX. Cecília foi a primeira mulher que ganhou um prêmio da Academia Brasileira de Letras. Clarice Lispector, uma das intelectuais mais importantes do mundo, que tive a honra de entrevistá-la na década de 60, revelou segredos de sua arte literária dizendo que nunca reescreve ou relê a sua escrita.
Outra mulher digna de figurar entre as batalhadoras de nossa liberdade, e quase ninguém lembra-se dela, é a esposa do escritor mineiro, Aracy Guimarães Rosa. Aracy teve atitudes de coragem e ousadia que fazem jus aos personagens do marido, como Augusto Matraga, Miguelim e, claro, Diadorim. Arriscou a vida para salvar refugiados políticos e enfrentou três ditaduras brutais: o nazismo, o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e o regime militar brasileiro (1964-1985). Ainda assim, a grande história de Aracy Guimarães Rosa passou longe das comemorações dos 50 anos da primeira edição de “Grande Sertão”, em 2006. Injustiça pura: é uma saga que merece ser contada.
Marco Antônio Soares de Oliveira
Escritor e jornalista
Foi a partir do século XX que as mulheres começaram a partilhar suas idéias com os homens. Susan Sontag (l933-2004), após sua morte, em dezembro, é que foi exaltada como a principal intelectual da América. Poucas chegaram ao topo. Ela sempre foi uma mulher de esquerda e muitos de seus pronunciamentos - sua defesa de vietnamitas do norte que torturavam americanos, sua caracterização da "raça branca" como "câncer da história", sua insistência de que os EUA foram os culpados pelo 11 de setembro - fizeram muita gente estremecer. Poucas mulheres se atreveram a tanto, como Camille Paglia, libertária dos anos 60, que criou polêmicas e questionou o "status quo" do norte-americano. Na França, veio em sua rasteira, a filósofa existencialista Simone de Beauvoir, mulher de Jean Paul Sartre, que foi uma peça fundamental para se começar a pensar e combater o preconceito que se tem com a figura feminina. O seu livro, "O Segundo Sexo" foi uma defesa da mulher transformada em objeto do homem. Também sua compatriota, antes, no século XIX, em pleno "Romantismo", Aurore Dupin, usando o pseudômino de George Sand (pois na época não era permitido a mulher escrever) tinha abalado a estrutura burguesa freqüentando os cafés parisienses, usando calças compridas e abusando do fumo e do álcool. Ainda mais, experimentando temas exóticos como reencarnação e socialismo.
No Brasil, uma das primeiras mulheres a abalarem a estrutura familiar foi Pagu. Patrícia Galvão, a musa do Modernismo, roubou de Tarsila do Amaral (pintora modernista) o poeta Oswald de Andrade e com ele se casou no Cemitério da Consolação, em São Paulo. A minissérie global "Um Só Coração" mostrou-nos cenas da época. Leila Diniz, no cinema fez bastante sucesso e foi a primeira mulher grávida, que apareceu na praia de Ipanema com a barriga de fora. Foi um escândalo para a sociedade brasileira. Outras mulheres intelectuais: a poetisa Cecília Meireles considerada pela crítica como a mais alta expressão da poesia feminina brasileira, e situa-se inegavelmente entre os mais altos valores da literatura de língua portuguesa do século XX. Cecília foi a primeira mulher que ganhou um prêmio da Academia Brasileira de Letras. Clarice Lispector, uma das intelectuais mais importantes do mundo, que tive a honra de entrevistá-la na década de 60, revelou segredos de sua arte literária dizendo que nunca reescreve ou relê a sua escrita.
Outra mulher digna de figurar entre as batalhadoras de nossa liberdade, e quase ninguém lembra-se dela, é a esposa do escritor mineiro, Aracy Guimarães Rosa. Aracy teve atitudes de coragem e ousadia que fazem jus aos personagens do marido, como Augusto Matraga, Miguelim e, claro, Diadorim. Arriscou a vida para salvar refugiados políticos e enfrentou três ditaduras brutais: o nazismo, o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) e o regime militar brasileiro (1964-1985). Ainda assim, a grande história de Aracy Guimarães Rosa passou longe das comemorações dos 50 anos da primeira edição de “Grande Sertão”, em 2006. Injustiça pura: é uma saga que merece ser contada.
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