Eu e o Futebol: Viva o Goleiro


Emílio Antônio Duva

E o Brasil, viva o Brasil de glórias mil, começou a ser o país do futebol tão logo as sensacionais conquistas das Copas de 58 e 62. Nesta época não tínhamos qualquer astronauta ou um simples brasileirinho que dominasse uma internet. A febre e a moda que assolava a cabecinha de nossos guris era a inclusão ao mundo do futebol. Chuteirinhas com solas de papelão duro, com 6 travas. Meias de algodão surradas e furadas. Bolas de capotão marrom, engomada com sebo de carne de boi gentilmente oferecida por extintos açougueiros. E assim fluía o futebol por aqui. Quantos sonhos, quantas ilusões. Quimeras mil.
Cardoso, ou Cardosinho era um senhor que treinava garotos no campo de futebol existente atrás da Igreja N.S.Aparecida (segundo campo de futebol do Bonsucesso F.C., o atual é o terceiro. O primeiro ficava próximo a estrada que dá acesso à Sinovo).
Garotos de todas as camadas, idades, e principalmente tamanho (porte físico) dedicavam-se aos sistemáticos treinos táticos e físicos ministrados por Cardosinho.
Canhão Vigorito teimava com este técnico, que sua posição não era de goleiro, e sim atacante. Gols e mais gols era que o Canhão Vigorito queria fazer. E, em hipótese alguma ser um novo Gilmar dos Santos Neves. Mas, porém, Cardosinho com seu olho clínico (teimosia, burrice, ignorância, etc, etc, etc, etc.) em todos os treinamentos colocava nosso insatisfeito atleta nas balizas. E profetizava: “Meu querido Canhão, com este privilegiado porte físico e altura, você um dia vai ser um excelente goleiro para o nosso Brasil varonil. Tenho dito. O tempo passou. Cardosinho se mandou de São José para uma cidadezinha no sul do país, levando seus inteligíveis conhecimentos.”
Canhão Vigorito, graças aos seus esforços torna-se um destacado preparador físico do São Paulo Futebol Clube. Esta equipe, no apogeu dos anos 80, dirige-se ao Gramado para um período de treinamentos e amistosos. Cardosinho vai então ao local que o ônibus do São Paulo acabara de desembarcar. Do ônibus começa a sair jogadores com os uniformes brancos e vermelhos, cabendo à comissão técnica o uniforme todo de cor preta. Os jogadores... Pedro Rocha... Serginho Chulapa... Gilberto Sorriso... e Muricy. De repente aparece o primeiro da CT: o preparador físico Vigorito, de camiseta longa, bermudão e tênis preto.
Cardosinho não acredita no que vê. Seus olhos enchem-se de lágrimas. Seu coração quase pára e dispara: “canhão, canhão, não te falei que um dia você iria ser um grande goleiro. poxa vida...”

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