Miguel Paião
Virgínia, em seu ateliê, trabalhando nas suas “bonecas namoradeiras”
Na tarde de terça-feira, 14, não contive a curiosidade e fui conhecer o ateliê da restauradora Virgínia Carriero. Soube na semana anterior que além de ser artista plástica, era especialista em restauração e conservação de bens culturais móveis do século 18 – algo que sempre achei fascinante. Depois de passar 20 anos em Ouro Preto (MG) ela e o marido Sérgio decidiram se mudar para São José do Rio Pardo e fixar residência na rua Tarsílio Siqueira, ao lado do Rotary Club. Ela nasceu em São Paulo e antes de se mudar para Minas, morou em São José nos anos 80 e parte dos anos 90.
Marquei minha visita antecipadamente pelo telefone e cheguei por volta das 14h – como o combinado.
Ela já estava me esperando. Sérgio, um homenzarrão simpático estava lapidando uma pequena pedra na varanda da cozinha de sua casa. Atencioso, mostrou-me que também é um artista. Com muita paciência, esculpi crucifixos em peças de madeiras rústicas, apanhadas em suas andanças. “Procuro não mudar a forma original da madeira, eu apenas ressalto a imagem que enxergo nela”.
Em seguida fomos para o ateliê e depois de duas horas de conversa, confesso que fiquei surpreso com a história e com a riqueza do ambiente e do trabalho da artista.
Ao som de as Quatro Estações, de Vivaldi, Virgínia explicou que em Ouro Preto, durante seis anos, cursou escolas de artes plásticas. “Esse estudo foi importante para que pudesse atingir o que realmente queria, ser restauradora. Mas para isso precisava de boas noções de pintura, desenho e conhecer a história da arte. Foram seis anos de artes e quatro de restauração, parece difícil, mas estando em Ouro Preto, você vive e respira cultura. A casa onde morava, por exemplo, era do século 18”, contou ela.
Depois de dez anos de estudos, Virginia acabou se tornando uma especialista em restauração de obras móveis - telas, imagens sacras, pintura de igrejas. Adquiriu tanta experiência que foi incumbida de restaurar uma imagem de Nossa Senhora da Piedade atribuída ao artista Aleijadinho. “Foram três meses intensos trabalho, durante esse período não tive sossego, fiquei com medo até de roubo”.
A técnica
O processo de restauração, segundo ela, é algo meticuloso. A pessoa tem que estudar a obra, a parte deteriorada, identificar o contexto histórico na qual ela está inserida, seu valor cultural e o material que foi utilizado na época para sua confecção. “Temos que ter essas noções para sabermos o material que irá compor a parte danificada sem prejuízo histórico. Não podemos fazer uma nova pintura da obra trabalhada, o restaurador deve se ater apenas ao local danificado”. Outro ponto importante para ela é a paciência, concentração, sensibilidade e principalmente ética para que o restaurador não interfira na obra original do artista. “O restaurador não pode achar que pode melhorar a expressão da obra de um artista, ele tem que respeitá-la”.
Falou da peculiaridade do Barroco Mineiro, diferente de todas as escolas do mundo. “A distância de Ouro Preto do litoral brasileiro, onde chegavam todas as novidades da Europa, impedia que os artistas mineiros, como Aleijadinho, tivessem um forte contato com as escolas de arte européia, assim passassem a utilizar matéria prima da própria terra para se construir suas obras. A madeira como o cedro e os pigmentos para fabricação de tinta eram extraídos da própria região”.
Falou da importância da união das pessoas para poder manter o patrimônio e sua tradição. “Em um distrito de Ouro Preto, a comunidade chegou a fazer uma rifa para conseguir recursos e restaurar uma imagem. Acredito que uma atitude como essa seja inimaginável em outra cidade”.
Ao final, Virgínia comentou o que chamou de “aparente” falta de consciência de se preservar bens culturais. Percebi que muitas casas históricas no centro da cidade têm sido demolidas. “Isso é uma pena. Estive visitando algumas igrejas e percebi que há varias imagens precisando de restauração”.
Como artista plástica, Virgínia Carriero estará participando da Feira de Artesanato da cidade e também dando uma oficina no Fórum Social da Mogiana sobre “A importância de se manter e preservar uma obra – móvel ou imóvel – como forma de história de um povo”.
Virgínia, em seu ateliê, trabalhando nas suas “bonecas namoradeiras”
Na tarde de terça-feira, 14, não contive a curiosidade e fui conhecer o ateliê da restauradora Virgínia Carriero. Soube na semana anterior que além de ser artista plástica, era especialista em restauração e conservação de bens culturais móveis do século 18 – algo que sempre achei fascinante. Depois de passar 20 anos em Ouro Preto (MG) ela e o marido Sérgio decidiram se mudar para São José do Rio Pardo e fixar residência na rua Tarsílio Siqueira, ao lado do Rotary Club. Ela nasceu em São Paulo e antes de se mudar para Minas, morou em São José nos anos 80 e parte dos anos 90.
Marquei minha visita antecipadamente pelo telefone e cheguei por volta das 14h – como o combinado.
Ela já estava me esperando. Sérgio, um homenzarrão simpático estava lapidando uma pequena pedra na varanda da cozinha de sua casa. Atencioso, mostrou-me que também é um artista. Com muita paciência, esculpi crucifixos em peças de madeiras rústicas, apanhadas em suas andanças. “Procuro não mudar a forma original da madeira, eu apenas ressalto a imagem que enxergo nela”.
Em seguida fomos para o ateliê e depois de duas horas de conversa, confesso que fiquei surpreso com a história e com a riqueza do ambiente e do trabalho da artista.
Ao som de as Quatro Estações, de Vivaldi, Virgínia explicou que em Ouro Preto, durante seis anos, cursou escolas de artes plásticas. “Esse estudo foi importante para que pudesse atingir o que realmente queria, ser restauradora. Mas para isso precisava de boas noções de pintura, desenho e conhecer a história da arte. Foram seis anos de artes e quatro de restauração, parece difícil, mas estando em Ouro Preto, você vive e respira cultura. A casa onde morava, por exemplo, era do século 18”, contou ela.
Depois de dez anos de estudos, Virginia acabou se tornando uma especialista em restauração de obras móveis - telas, imagens sacras, pintura de igrejas. Adquiriu tanta experiência que foi incumbida de restaurar uma imagem de Nossa Senhora da Piedade atribuída ao artista Aleijadinho. “Foram três meses intensos trabalho, durante esse período não tive sossego, fiquei com medo até de roubo”.
A técnica
O processo de restauração, segundo ela, é algo meticuloso. A pessoa tem que estudar a obra, a parte deteriorada, identificar o contexto histórico na qual ela está inserida, seu valor cultural e o material que foi utilizado na época para sua confecção. “Temos que ter essas noções para sabermos o material que irá compor a parte danificada sem prejuízo histórico. Não podemos fazer uma nova pintura da obra trabalhada, o restaurador deve se ater apenas ao local danificado”. Outro ponto importante para ela é a paciência, concentração, sensibilidade e principalmente ética para que o restaurador não interfira na obra original do artista. “O restaurador não pode achar que pode melhorar a expressão da obra de um artista, ele tem que respeitá-la”.
Falou da peculiaridade do Barroco Mineiro, diferente de todas as escolas do mundo. “A distância de Ouro Preto do litoral brasileiro, onde chegavam todas as novidades da Europa, impedia que os artistas mineiros, como Aleijadinho, tivessem um forte contato com as escolas de arte européia, assim passassem a utilizar matéria prima da própria terra para se construir suas obras. A madeira como o cedro e os pigmentos para fabricação de tinta eram extraídos da própria região”.
Falou da importância da união das pessoas para poder manter o patrimônio e sua tradição. “Em um distrito de Ouro Preto, a comunidade chegou a fazer uma rifa para conseguir recursos e restaurar uma imagem. Acredito que uma atitude como essa seja inimaginável em outra cidade”.
Ao final, Virgínia comentou o que chamou de “aparente” falta de consciência de se preservar bens culturais. Percebi que muitas casas históricas no centro da cidade têm sido demolidas. “Isso é uma pena. Estive visitando algumas igrejas e percebi que há varias imagens precisando de restauração”.
Como artista plástica, Virgínia Carriero estará participando da Feira de Artesanato da cidade e também dando uma oficina no Fórum Social da Mogiana sobre “A importância de se manter e preservar uma obra – móvel ou imóvel – como forma de história de um povo”.
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