Todo dia é dia de índio


Marcelo Augusto da Silva

http://marceloaugustodasilva.blogspot.com

O calendário está repleto de datas comemorativas - algumas em nível nacional outras em nível internacional - a algum grupo ou a alguma minoria como os negros, as mulheres e os idosos. Esses vêm tendo maior destaque de uns tempos pra cá, mas o Dia do Índio, que é comemorado no dia 19 desse mês, parece que ficou esquecido no tempo, ou ao menos foi deixado de lado, salvo em algumas escolas infantis que distribuem penas feitas de papéis para as crianças colocarem na cabeça, tão idênticas quanto à dos índios da América do Norte.
A celebração de uma data a algum grupo dá a impressão – assim como é dito em tom de piada – que somente um dia é dedicado a ele e os outros 364 restantes não são. O índio está ficando pelo jeito sem nenhum dia. Aliás, não se pode dizer que ela tenha algo; pois tudo o que lhe pertencia como cultura, tradição, terras, família, costumes e inclusive a sua alma lhe foi tirado sem piedade, condenando-os a uma situação de marginalidade e exclusão a qual eles vivem ultimamente. Ocupando todo o território brasileiro e possuidor de uma cultura infinitamente superior a qualquer outro que se julgue civilizado, o indígena foi submetido a um genocídio por parte dos portugueses que aqui chegaram, tão somente interessados em riqueza e conversão dos “infiéis”. De toda a exuberância que existia nessas comunidades pouco restou, há tribos que não sobrou nenhum descendente, nem sequer um vestígio para lembrar o que foram aquelas pessoas.
A ganância europeia não soube olhar a verdadeira riqueza que existia nos índios dos Brasil, que era a comunhão entre os membros da tribo, o respeito à natureza, a dedicação e proteção aos membros de sua família, principalmente às crianças e aos adultos. Já de início foram tachados de selvagens e sem alma pelo branco, que via somente a sua imagem como referência do que é certo ou belo. No entanto a história mostrou que o verdadeiro não civilizado era o próprio europeu, pois só assim pode-se classificar alguém que tira a vida de uma pessoa somente pelo fato dela ser diferente.
Mais de 500 anos se passaram e essa mancha na história brasileira não foi reparada, pois ainda se coloca o índio no mesmo patamar rebaixado que se colocava na chegada dos portugueses. Ainda hoje a palavra índio ainda é usada como sinônimo de selvageria, de burrice ou então anomalia. O mesmo branco que atualmente o agride verbalmente afirmando que ele não é legítimo, pois usa calçado, assiste televisão e pilota uma moto, se esquece que foi um membro de sua “raça” que tirou todo o modo de vida indígena para impor o seu, na convicção que era o correto.
Mesmo com uma miséria de terras atualmente lhes pertence - graças a leis que lhes garantem isso através da criação de reservas - ainda o branco o atormenta e o pressiona com a mesma truculência de outrora para roubar esse mínimo que está sob sua posse. É pouco divulgado, mas o massacre e a crueldade ainda é uma constante na vida dos indígenas.
Querer esconder a vergonha do passado do Brasil dedicando um dia ao índio é uma atitude não muito digna. Os verdadeiros donos do Brasil mereceriam inicialmente respeito por tudo aquilo que são e em seguida a devolução daquilo que foi seu no passado. O curioso é que o tempo não conseguiu ensinar ao branco que ele está errado desde a invasão dos portugueses, muito pelo contrário, esses erros persistem em acontecer sucessivas vezes, e nada tem sido feito para reverter a situação. No discurso, nas teorias e na legislação tudo parece caminhar em direção ao respeito e a convivência pacífica, mas no fundo o desprezo, o racismo e a pilhagem ainda fazem parte da mentalidade do branco.

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