Eu e o Futebol: A bola e a madeira


Emílio Antônio Duva

E o jogo dos sonhos seria no estádio da Associação Atlética Riopardense (AAR), em um domingo festivo de sol e muita cerveja - como manda o figurino. A seleção rio-pardense de futebol enfrentaria a seleção paulista de veteranos com renomados craques como Ivair (o Príncipe), Juary (o Robinho dos anos 80), Amaral (o Tal), Aylton Lira, Luís Pereira e um dos maiores ponteiros esquerdos que o MUNDO conheceu: Edu (do Santos Futebol Clube).
Pelo outro lado, os nossos esforçados “craques”: Becão, Chimbica, Agripino, Luís Pizani e... João Quessada - que teria a ingrata missão de marcar o referendado Edu, uma espécie de Garrincha da ponta esquerda. Mas, antes de falarmos da peleja, vale ressaltar que o nosso bom e próspero Quessada havia adquirido uma grande empresa, aqui mesmo na cidade, no ramo de compensados, vigas, portas e outros produtos derivados. A economia brasileira, na época, oscilava de mal a pior, de pior à péssima, e de vez em quando uma pequena luz no fim do túnel, graças aos esforços da tão surrada população-escravizada-verde-amarela... Ufa.
Então vamos ao jogo da bola... Inicia-se aquela exuberante partida; o estádio como sempre lotado. E o esperado acontece: Edu, na primeira jogada, passa por João Quessada, que mal vê a cor da bola, e, muito menos o habilidoso ponteiro.
No segundo duelo, Edu joga bola para a direita e sai pela esquerda, caracterizando o famoso “drible da vaca” no assustado lateral direito. Em um outro lance fatal para o nosso camisa dois, o ponta aplica um “chapéu”, em que o numero nas costas de sua jaqueta foi parar na barriga.
Delírio geral para os torcedores, como sempre carente de espetáculos futebolísticos. O que se passava na cuca de João Quessada era uma incógnita. O que se pensar? O que se fazer? Dar prioridade à partida ou à segunda-feira “braba” que se aproximava cheia de compromissos empresariais? Hum? Hein? De repente, não mais que de repente, um gaiato torcedor exclama ao lateral e empresário João Quessada:
- Baixa a madeira, João... Atordoado com os dribles e principalmente com a instabilidade econômica, responde de súbito:
- Cê tá louco, sô!
A resposta ao torcedor registra uma das passagens mais dignas do folclore, rio-pardense.

Do autor: Esta crônica é uma homenagem a um dos nossos excelentes atletas. Futebolista e atualmente dedicando-se ao pedestrianismo internacional. Excelente amigo e prospero empresário no ramo de madeiras em geral. Receba João Batista Quessada, o nosso abraço, o nosso carinho e admiração.

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