Eu e o Futebol: Contos do Natal


Emílio Antônio Duva

Natal era mais um garoto sonhador, com chuteiras, bolas de capotão marrom, bem ensebadas, camisas de algodão de todos os times, e o número sete às costas. Persuadiu e venceu nos seus devaneios. De aprovações ímpares nos treinos selecionantes até chegar ao grande time da cidade grande. Bons contratos, entrevistas diárias as rádios e TVs e uma indisfarçável pinta de galã. Cabelos longos, lisos, perfumado ao extremo. Um dia conhece a mulher ideal e casa-se. Mas a vida boêmia continua e muitas conquistas e farras a cântaros. Certa vez saiu com amigos e não conseguiu chegar em casa, ao que ele chamava de ¨lar, doce lar¨, e ficou onde estava. No dia seguinte, o da ressaca, pensou bem e chegando a porta da residência, nem bem tocou a campainha, sua esposa, brava como uma cascavel pisada armou a bronca, e Natal antes dela falar: “Tá vendo por que não cheguei ontem aqui?...Te encontrar mal-humorada? Volto amanhã,meu amor...” E sai para mais um dia (ou noite) de farra. No segundo dia volta novamente, aperta a campainha, e, ela o recepciona com um vasto sorriso moreno. Ele conclui: “Agora sim, meu amor. Já mudastes bem. Deu gosto de voltar para a nossa casinha...”, sapecando-lhe de beijos fartos.

Tempos depois, nosso querido Natal desfila por uns bons times do nosso Brasil: Bahia, Corinthians, Cruzeiro e outros, até vir jogar numa cidadezinha distante de holofotes, mas estava já a beira do fim de carreira. Um pouco bem mais gordo, careca, e de muita experiência. Naquele treino já mostrava alguma má vontade para com o treinador polêmico, recém contratado, que queria mostrar resultados à população. E nada estava dando certo para que Natal cruzasse as bolas, da ponta até a área grande para cabeceios fatais dos atacantes. E naquele estádio, forrado de placas – propagandas de renomadas casas comerciais, incentivando o time simpático da cidadezinha, que aspirava chegar á uma divisão especial, o treineiro chega e diz a ele: “Seguinte meu querido... você pega a bola na FARMÁCIA DO OSMAR, tabela na PAPELARIA E TIPOGRAFIA IDEAL, corre até o BAR DO SÉRGIO JAPONES, e, cruza redondinho, ok?”
Depois de vários treinos, acertos, esforços e leitura nas placas, Natal passou a acertar todos os cruzamentos.
Coisas da bola, coisas de nossas vidas. A todos vocês, estimados leitores, sinceros votos de FELIZ NATAL.

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