Garrincha - Um deus, um anjo ou um demônio de pernas tortas? Final


Emílio Antônio Duva

Então o Corinthians realiza com o Botafogo a maior transação, da época, para a contratação de uma estrela. O timão necessitava ser campeão paulista nos seus já 12 incômodos anos de jejum. Mané Garrincha estreou no dia 2 de março de 1966, num recorde de renda e público no Pacaembu, mas acabou perdendo por 3 a 0 para o Vasco da Gama, gerando um fiasco. Garrincha veste o manto sagrado, de número 7, tal qual a da equipe da estrela solitária, que acabaria imortalizando-a.
Em São Paulo estava criada uma concorrência desportiva formidável. De um lado, o Santos, abarrotado de títulos paulista, com seu uniforme todo branco, com um negro também famoso, dentro de uma camisa número 10, de outro o camisa 7 do Corinthians. Garrincha disputaria tão somente 13 jogos, assinalando apenas 2 gols. No Botafogo jogou 614 partidas, com 245 gols. Mas, como os ares paulistano não lhe fizeram bem, resolveu partir para a inexpressiva futebolística Colômbia. Em seguida volta para a perigosa e deslumbrante Cidade Maravilhosa, assina contrato com o Olaria, joga 10 jogos e marca um único gol. Encerrou assim a carreira profissional, depois seria a maior estrela dos Milionários Futebol Clube, equipe que reunia somente ex-jogadores, já gordos, carecas e principalmente quase todos em situação financeira das mais criticas e necessitadas - Garrincha ajudou a compor o coro desses atletas.
No entanto, os sintomas graves de alcoolismo já eram visíveis e sentido. Numa ocasião, em mais uma cidadezinha do interior, fora anunciado a presença de Mané, porém o mesmo mal podia se manter de pé, num canto de um vestiário. Mas ele teve que entrar em campo, depois de mais uma aplicação de coramina (glicose, energético) para salvar a reputação do evento.
Atribuíam que o fascínio pelo álcool, já era de infância, pois seus pais e avós, de origem indígena, tratavam suas crianças, para a nutrição, ou modestíssimos socorros em enfermidades, com um composto de cachaça, mel, açúcar de rapadura e limão raspado. A bebida preferida de Mané era a interminável caipirinha. Seu viver já estava chegando às raias de insuportáveis brigas, crises etílicas e abandonos de compromissos.
Então a gloriosa e extinta CBD (hoje CBF) realiza no Maracanã o Jogo da Gratidão. Uma seleção brasileira, com o ataque formando por Garrincha, Jairzinho e Paulo César Caju, numa alusiva homenagem, concomitantemente ao seu querido Botafogo. Era 19 de dezembro de 1973, a renda da partida, 230 mil dólares, o que representaria hoje mais de 425 mil reais, ficou toda para Mané. Pergunta-se: o que ele fez com aquela dinheirama toda?
Gastou tudo. Torrou. Evaporou-se nota por nota. Nilton Santos, o compadre, desconfiou certa vez, e foi à casa de Mané, apresentando-lhe o Sr. José Luiz Lins, diretor do Banco Nacional, sede Rio. Ele abriu uma conta bancária, e tentou educar Mané a investir, a poupar, e administrar juros rentáveis. E num zás-trás, a se esvaziou.
Pois nosso referendado quando descobriu que folhas de cheques se transformavam em pagamentos e dinheiro, não titubeou em pagar corridas de táxi, doses de conhaques, maços de cigarros, e alguns certos inconvenientes com valores expressos bem acima do normal. Resultado: de um polpudo saldo em dinheiro passou a ser devedor. Na próxima edição a parte final da historia daquele que um dia teve tudo a seus pés, e que a partir de agora passou a necessitar das mãos de alguns poucos para lhe ajudar.

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