CARTA DO LEITOR

-
O artigo “Água benta para menores”, escrito pelo nosso companheiro Fábio Missura, publicado no mês de julho, na edição 41, deste singelo tablóide, causou os mais diversos comentários, repúdios e também apoio. No entanto, vale ressaltar que nenhuma das avaliações lançadas sobre o texto, pelo menos que tenha chegado até nossas mãos, foi tão sensata e sincera quanto a do Abade do Mosteiro São Bernardo, Dom Edmilson Amador Caetano. O comentário de Dom Edmilson foi enviado para o endereço eletrônico oficial do jornal -
dasilva@ciranda.net -, no dia 17 de julho, mas, por problemas na caixa de mensagem, ele somente foi aberto na semana passada.
O texto de Missura, dentre outras coisas, falava em exploração da fé e da suposta venda de bebidas alcoólicas para menores em quermesse.
Segue o comentário de Dom Edmilson na integra.

Miguel, paz!
Parabéns a você e equipe pelo retorno do “da Silva”.
Fico contente em poder lê-lo novamente.
Peço a você que faça chegar ao Fábio Missura (não tenho e-mail dele) o que escrevo abaixo, a respeito do artigo “Água benta para menores”.

1) Concordo plenamente que não se deva vender cerveja para menores. O alcoolismo entre os jovens está sendo um fato assustador. Creio que a análise deste fenômeno é complexa e não tenho condições de fazê-la neste momento.

2) Não quero entrar no assunto daqueles que “por aí vivem da exploração da fé”, pois isso vem acontecendo e se fala na Igreja católica de “marketing católico”, coisa que não aceito. Ainda que estejamos na famosa globalização, o espírito da Igreja – ainda que não possa ausentar-se da vida comercial em certos aspectos – deve ser outro.

3) O dízimo, bem entendido no seu sentido bíblico é pastoral, não se encaixaria na expressão “exploração da fé”, pois é de origem bíblica. É aqui realmente que aparece o problema para a Igreja Católica e para as outras comunidades cristãs. O dízimo não é comércio com Deus, nem esmola, nem prestação que se paga à comunidade cristã. O dízimo é ato de culto a Deus (“Amarás o Senhor teu Deus com todas as tuas forças”.), contribuição consciente com a comunidade cristã para a Obra de Evangelização, que não só inclui o devido sustento dos ministros, mas todas as despesas da comunidade e também as obras de filantropia e promoção humana.

4) Neste sentido tenho sempre expressado o meu parecer contrário às quermesses, (no momento atual, não digo daquilo que foram as quermesses tradicionalmente). Se o dízimo é a oferta consciente e cristã para o sustento da comunidade, não haveria necessidade de quermesses, uma vez que todos os cristãos devem contribuir com o dízimo. Quando a Igreja promove uma quermesse emprega o trabalho voluntário de muitas pessoas (pessoas generosas!), depende de doações, pois se tiver que comprar as coisas necessárias o resultado será muito trabalho e pouco ganho. Aparece também esta lamentável e imoral situação de menores bebendo bebidas alcoólicas e o modo imoderado como bebem alguns adultos. Visto que não depende da minha pessoa aprovar ou não a realização de quermesses, sou do parecer que nas quermesses paroquiais não se deveria vender cerveja ou outra bebida alcoólica; seria um modo de evitar este desagradável problema.

5) Na verdade, não se vende cerveja diretamente a menores (pelo que sei e já vi), mas adultos compram e passam aos menores. Fica difícil uma fiscalização nas quermesses. Não vender bebida alcoólica a menores é uma lei “das autoridades competentes” e acredito que venha sendo respeitada, exceto pela situação que citei acima. Portanto, não concordo com o “vale tudo por dinheiro”.

6) A respeito do Educandário: Ele não é propriedade das religiosas. É uma instituição pública, onde atualmente quatro religiosas trabalham incansavelmente para a educação e sustento das crianças que para lá são enviadas pelas “autoridades competentes”. Se é pública, não precisaria de quermesses para providenciar o devido sustento. (As paróquias também não são propriedades dos padres; a Igreja não são os bispos e os padres simplesmente).

7) Uma observação: Se existir uma moral católica que não seja cristã, ela é falsa.

8) Escrevi, Fábio, porque tive vontade. Não gosto de escrever. Acredito que o meu carisma seja mais de pregador, que escritor. Desejo que o “da Silva” continue desta vez sem interrupções e que possa ajudar a todos na reflexão política, social, histórica etc. Além, é claro, de informar os fatos sob um outro prisma, que não desmerece a nenhum informativo da nossa cidade, mas nos ajuda a ter uma visão mais ampla da realidade.

Um forte abraço.
D. Edmilson Amador Caetano
Abade do Mosteiro São Bernardo

Nenhum comentário: