Eu e o Futebol: A bola, a bala e a dentadura


Emílio Antônio Duva

Prezados leitores, sabemos que no atual momento, o que se passa de balas sob nossas cabeças, e o que se passa na cabeça de milhares de treinadores de futebol são as bolas, num contraste social que assola nosso país. Abordo hoje um folhetim da vida de um ex-jogador de futebol. Seu nome: Jair Felix da Silva, mais conhecido pelo apelido de Jair Bala. Conterrâneo do rei Roberto Carlos.
Este capixaba nascido em maio de 1943 foi levado ao C.R. Flamengo no inicio dos anos 60, pelas mãos de El Bruxo Fleitas Solich, um treinador paraguaio radicado no Rio de Janeiro. Na deslumbrante Gavea recebeu o apelido, que o deixou famoso nas lides futebolísticas. Uma vez, dirigiu-se a uma das salas do departamento de futebol a fim de receber uma gratificação por um jogo ganho (o famoso bicho). Lá encontrou um funcionário de nome William, que por brincadeira (das mais perigosas) fingindo brabeza tentou fazer com que o garoto mudasse de idéia e, empunhando um Colt, aponta-o a Jair, havendo um disparo acidental. A bala ricocheteou no chão e foi entrar na coxa esquerda do jovem ponta de lança, parando na virilha, felizmente não atingindo nenhuma parte vital. Médicos especialistas resolveram, por bem, não retirar o projétil, que Jair porta até hoje, em local ignorado. Foi então que Jair virou o “Jair da Bala”, e, sucessivamente Jair Bala.
Sempre elegante e falante, Jair Bala, foi um cigano do futebol. No Botafogo (RJ), recebendo bons salários, assimilava habilidades e historias.
Num jogo contra o modesto Madureira, fez um golaço, num indefensável tirambaço. Disse aos microfones dos rádios que “com a bala no seu corpo, dali em diante, seus chutes seriam verdadeiros tiros a gol...”
Defendeu pelo interior paulista equipes como Comercial e Ponte Preta. Na metrópole paulistana defendeu o Palmeiras. Na capital mineira, defendeu o Cruzeiro, e sagrou-se campeão mineiro, em 1971, pelo sempre simpático América, constituindo-se no melhor jogador de todos os tempos, naquele clube. O destino, ah o destino, como sempre... Teve seus minutos de fama, internacional sim senhor, quando substituiu o rei Pelé, na noite do jogo do milésimo gol, no Maraca. Encerrou a carreira de futebolista, abençoando-se na Boa Terra, de Todos os Santos, com a camisa do E.C. Bahia. Um de seus filhos hoje é arbitro de futebol da CBF. Ficou marcado pelo jeito de folgado boleiro, autor de uma frase marcante, entre elas: o amor é lorota, o que vale é lá nota... Dia destes, entrevistado num programa esportivo de televisão, ao vivo, em BH, sem querer, num ato hilário, um de seus dentes caiu pela sua cintura abaixo, gerando gargalhadas de um colega ao lado. Simplesmente o mais folclórico... Dada Maravilha. Coisas da bola, coisas da vida...

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