O incômodo Cesare Battisti


MARCELO AUGUSTO DA SILVA
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De tempos em tempos a mídia acha um motivo e volta a tratar o comunismo como sendo algo maléfico e extremamente perigoso, tal como era no período da Guerra Fria, em que essa estratégia era usada abusivamente pelos capitalistas.
A concessão de status de refugiado político ao escritor e ativista italiano Cesare Battisti dada pelo Ministro da Fazenda Tarso Genro reacendeu novamente o exorcismo ao comunismo. Battisti foi membro do grupo de esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) na década de 1970 e tornou-se um foragido político ao abandonar o grupo por direcionar-se para a luta armada, optando assim o escritor por buscar outras formas de atuação. A Itália tenta acusá-lo do assassinato de quatro membros de seu grupo por terem assumido posições contra-revolucionárias.
Sem entrar no mérito do julgamento, o que causa indignação não é o caso do Brasil aceitar um refugiado, mas sim do caso se tornar grave por Battisti ser comunista e as responsabilidades caírem sobre o ministro, apontando-o como favorável ao italiano por ser um adepto também da causa comunista.
Genro após estudar exaustivamente o caso concluiu que faltam provas suficientes para condená-lo, pois a única testemunha existente é um integrante do PAC que entregou Cesare Battisti para se enquadrar no plano de delação premiada e por este estar atualmente vivendo em local desconhecido e com identidade trocada.
Que o Brasil é um pais de criminosos não é novidade; mas daí a agravar a situação com a falsa afirmativa de que o ministro é tão “criminoso” quanto ele, sem assumir que no fundo o problema maior é outro, ou seja, o crime seria ser comunista, o que torna a questão um tanto quanto bizarra.
O Brasil sempre foi refúgio de assassinos desde o momento da chegada dos portugueses, os condenados e degredados e sendo assim perpetuou essa “tradição” até os nossos dias. É tão cheio de assassinos como aqueles do colarinho branco, membros da classe privilegiada que se beneficiam de seus confrades, padrinhos e corruptos que ocupam altos cargos na justiça; tão criminosos como os militares de várias patentes, assassinos públicos que mataram centenas durante a ditadura militar e que hoje convivem, tranquilamente, em nosso meio beneficiados pela Lei de Anistia, que por acaso foi criada por eles mesmos.
Aliás, quando Tarso Genro tentou quebrar a tal Lei - que não permite que os torturadores sejam incriminados - e abrir os arquivos da ditadura para penalizá-los como criminosos, novamente esbarrou no empecilho da ideologia; sofreu vários tipos de acusações e protestos, chegando ao ponto do presidente - que se dizia tão intolerante à tortura e à ditadura – pedir para que ele abandonasse essa idéia.
Provavelmente essa marca negativa forjada ao comunismo e carregada por ele ainda vai durar muito tempo. O jogo baixo da direita em atacar, agredir e incutir falsa culpa no seu oponente para esconder os seus defeitos não foi por ela esquecida. Talvez seja ingênuo pensar que a disputa entre as duas correntes ideológicas tenha terminado no final da década de 1980; ao menos é o que parece quando vemos as reações que acontecimentos como este causa em determinados grupos, onde alguns tremem de pavor e outros esperneiam de raiva. Talvez o incômodo maior seja a proposta comunista ainda estar viva e que uma hora ou outra ela possa achar um espaço, não somente um refugiado político comunista isolado.

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