A regra só vale pro outro


Rafael Kocian – professor de Educação Física

Em uma partida esportiva é interessante observar as reações e comportamentos dos participantes, aliás, o esporte é um prato cheio para emoções e sentimentos. Conforme o jogo vai traçando seus rumos os participantes vão mudando de expressão, de sentimento e de comportamento.
O “fair play” é uma postura que deveria ser adotada do início ao fim de qualquer partida, ou seja, o jogo limpo deveria valer do apito inicial ao final, mas tenho notado que isso tem sido uma prática que só ocorre se o time estiver em vantagem.
Enquanto está tudo empatado ou ganhando, o time faz a política de devolver a posse de bola que foi colocada para fora por motivo de contusão de algum jogador, agora se estiver perdendo esqueça isso, a posse de bola é interessante a ser mantida. Enquanto o árbitro erra a meu favor tudo bem, agora se o erro foi pra beneficiar o adversário é melhor protestar, xingar e dizer que tudo é manipulado.
Se o atacante da minha equipe se joga na área pedindo pênalti, eu me calo e até reclamo. Se for o adversário se joga na minha área e pede pênalti, eu protesto, brigo e falo mal do atleta. Parece-me que cada vez mais a regra só tem que valer pra um lado só. O perigo disso é que isso tem ido além dos campos esportivos.
Cobramos a postura correta dos nossos irmãos, até os denunciamos para nossos pais quando fazem algo errado. Quando eu provoco algo errado, imploro para que não conte e guarde segredo.
Cumprir o que diz a lei é só enquanto estávamos na oposição. Quando nos tornamos governantes, esquecemos da lei. O nepotismo não vale para os outros, pra mim, pra minha esposa e meus filhos vale. As licitações com fraude só devem ser punidas em mandatos posteriores ou anteriores, no meu mandato ta valendo. Fiscalizar então, enquanto me interessa pesquiso tudo, a partir do momento que é contra meus interesses, melhor deixar quieto.
Na minha cidade, São José do Rio Pardo, os vereadores derrubaram o aumento salarial dos secretários municipais de R$ 6 mil para R$ 3,2 mil. Aplaudi a realização e concordo que o valor é elevado para a cidade, interessante é que os vereadores receberam um aumento bem maior que os índices inflacionários e, atualmente, recebem R$ 3,7 mil. Será que o raciocínio só vale para os secretários? Será que a regra do jogo só vale para o time A, pro B não?
Pois é, me pergunto o que é moral e o que é ética? Isso tem validade ou contexto? Ou pode ser alterado de acordo com a situação, ou melhor, com o meu interesse. Vale a pena pensar.

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