Eu e o Futebol: Chico Capuano


Emílio Antônio Duva

Ele era um misto de rio-pardense e paulistano. Amava o Piloto, assim como o Juventus. Admirador de árias napolitanas, igualmente de sambas de breque.
O futebol local perde um dirigente, a arquibancada, já vazia, desfalca-se de um torcedor.
Estamos falando de Francisco Capuano Alexandre, o popular e respeitado Chico Capuano. Quantas vezes tomamos cafezinho juntos na Conselheiro Furtado; inúmeras vezes, vários copos plásticos de chopps na rua Javari. Em minha residência ouvíamos Pavarotti e terminávamos com Germano Matias na latinha de pomada para lustrar sapatos.
Certa vez, trouxe de São Paulo um advogado famoso nas lides advocatícias - homem de rádio e televisão - veio para defender o Piloto de uma questão desportiva, nada mais nada menos que Dr. João Batista Zanforlim, para deleite até dos seus adversários.
O primeiro contato que tive com Chico Capuano foi num campo de futebol. Num domingo, na Fazenda Serra, num clássico Serra x Rancho do Leão.
Disseram-me, os colegas, para que não descesse muito em apoio ao ataque, pois o time “da fazenda” tinha um médio (sim senhor) volante baixinho que sabia parar os avanços por aquele lado. Ele, uns 15 anos mais rodados do que eu, não me causou medo. Mas, foi só a bola rolar que ele mostrou sua categoria.
Fiquei na minha, lá atrás, contemplando suas gingas e liderança no meio campo. Grande Chico.
Idealizou e evolucionou o futebol rio-pardense com o seu Piloto. Organizou tudo pelo amor àquele clube. Sucessivos títulos conquistados.
Já cansado pela ampulheta do tempo – implacável – volta a administrar o seu recanto aprazível. Sendo ali o seu derradeiro tento de hora, caindo por terra num lance desumano, covarde e violento. Seus esforços não poderão ficar em vão. Sempre que o futebol, local, necessitar de uma força, agora não mais material, poderá recorrer em orações à alma do saudoso Chico. Incrustado de ternura e na doce lembrança dos nossos corações. Em nossos cantinhos de saudade.

Nota do autor: ao longo de alguns anos foram brutalmente assassinados ex-jogadores, cito: Mauro Cabeção, Guarani, anos 80; Marco Antônio Riul, Corinthians, anos 70; Del Vechio, Santos, anos 50 e 60; Décio, América RJ, campeão em 1960; Tião, Atlético MG, anos 70; Zimmerman, Santos, anos 80.

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