Momento Espírita: Sacudir o pó

Grupo Espírita Hilário Silva

Conforme consta do Evangelho segundo Lucas, em dado momento Jesus enviou Seus discípulos para pregar e curar. Dentre as exortações, orientou como deveriam se comportar, caso eles e suas idéias não fossem acolhidos em algum lugar. Nessa hipótese, os discípulos deveriam se retirar e sacudir o pó de seus pés.
Há quem veja nessa forte expressão um anátema lançado contra os descrentes. Contudo, isso destoa do conjunto da mensagem do Cristo. Jesus ensinou e exemplificou a compaixão e não fugiu do contato com os equivocados do Mundo. Afirmou mesmo que os sãos não necessitam de remédio.
Uma coerente interpretação da exortação é no sentido de que os discípulos não deveriam conservar qualquer rancor. Ao se despedir de quem não os havia aceitado e compreendido, deveriam seguir de alma leve. Bater o pó dos pés equivaleria a se livrar de todo traço de impureza, no sentir e no pensar.
Trata-se de uma lição preciosa, cuja aplicação permite permanecer em paz em face da incompreensão. É comum a criatura idealista desejar partilhar seus sonhos e projetos de um mundo melhor. Ela se toma de natural tristeza quando não é compreendida. Esse sentimento é ainda mais forte quando são seus amores que não a entendem. Por exemplo, um pai rigorosamente honesto que não consegue convencer os próprios filhos a lhe seguirem os exemplos. Uma esposa tomada do ideal da caridade que encontra resistência no próprio esposo, quanto a seus atos generosos. Um professor apaixonado pelo saber que depara com alunos preguiçosos. Nessas experiências decepcionantes, é preciso sacudir o pó dos pés. Compreender que a liberdade é uma lei da vida e não esperar dos outros o que ainda não podem ou não querem dar. A construção de um mundo melhor não se faz sem sacrifícios.
Quem esposa o ideal de um padrão ético superior é um homem do amanhã. Ele vive hoje o que a maioria viverá mais tarde. Sua função é a de um semeador do bem. Com seu exemplo, demonstra a possibilidade de ser honrado e generoso. Com suas palavras, exorta os que o rodeiam a imitá-lo. Mas não pode impor suas idéias. Cada alma amadurece a seu tempo para as grandes verdades da vida.
Perante incompreensões, resta a tranqüilidade da consciência pelo dever bem cumprido. E também a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, as sementes do bem produzirão saborosos frutos. Compete a cada homem colaborar para que o mundo se aprimore e os costumes se purifiquem. Entretanto, o resultado de seus esforços repousa nas mãos de Deus. Com o inesgotável recurso do tempo, Ele assegura que, no momento adequado, o bem se torne pujante, no íntimo de cada ser.

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