Eu e o Futebol: Márcio Araújo, elegância e polidez


Emílio Antônio Duva

Caríssimos leitores, hoje descreveremos duas passagens distintas de um de nossos melhores futebolistas. Ele iniciou seus passos no mundo da bola num campinho próximo a uma gruta famosa em São José do Rio Pardo. Lá, com seu formidável tio José, formou um timinho simpático, o inesquecível Grutense, com mais uma turminha de garotos habilidosos e sonhadores com um futuro em algum time deste imenso Brasil.
Alguns garotos, hoje, homens de sucesso, não envergaram camisa nenhuma de time nenhum. Alguns meninos, hoje homens realizados ou alguns ainda desafiando vencer neste desafinado país de congressistas e senadores inescrupulosos, da mãe gentil. Ele recebe o apelido de Speed (pois se parecia muito com o personagem herói daquele desenho animado), e galga brilhantemente pelos juniores da Associação Atlética Riopardense, onde se destacou e foi rapinho para o São Paulo Futebol Clube.
Estamos referendando o talentoso Márcio Longo de Araújo. E naquele longínquo ano de 1977, num treino entre juvenis e titulares do tricolor (Campeão Brasileiro daquele ano) ele, num daqueles lances raros de beleza, categoria e principalmente elegância, aplica um “sonoro” chapeuzinho no dono do time, alguém nada mais nada menos que Chicão (falecido recentemente). Aplausos, risos, ovações em geral a favor daquele lance e de seu autor. Márcio, então ruborizado, depois da reação do público, dirigisse calmamente até o zagueiro e diz: - Desculpe, Seu Chicão. O violento e marrudo Chicão vira uma fera em cima de Márcio, entendendo que foi mais uma vez ridicularizado por aquele, que é considerado um dos maiores gentleman do futebol pentacampeão do mundo.
A propensa atitude de Chicão jamais poderia tirar o brilho do lance e o gesto raro de respeito do craque rio-pardense... O tempo passa, e anos mais tarde naquele timaço da Portuguesa (Vice-Campeão Paulista de 1985) na partida da semifinal, num Morumbi super lotado, novamente Márcio Araújo, pelas forças das circunstâncias em campo, teve que aplicar um lindo e vistoso chapéu. Desta vez em ninguém mais, ninguém menos do que o melhor beque-central que o futebol já viu jogar – Luís Pereira. Delírio geral do povão. O cadenciado e elegante atleta dirige-se a ele diz:
- Desculpe-me senhor Luís Pereira. Repetiu os gestos dos bons sem querer magoar a vítima. O que se viu e ouviu foram altíssimas gargalhadas do honrado camisa três (3) que um dia defendeu as melhores equipes que o mundo futebolístico possa imaginar, e que no alto de sua majestade, deslumbrou-se com aquele jogador, tido como súdito, e que um dia barrou naquela mesma equipe, Falcão, o Rei de Roma.
Coisas do futebol, coisas de homens que diferenciam neste mister denominado vida.

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