Ave César, o Maluco


EMÍLIO ANTÔNIO DUVA

Minha prima Narciza (Vedovatto Pivato) já moça parte para São Paulo, juntamente com seus pais e irmãos nos idos dos anos 50. O Brasil chorava a perda da primeira Copa do Mundo em pleno Maracanã (RJ). Os E.U.A. nos assustavam e nos compensavam com suas invenções eletrodomésticas.
Narciza, com sua inteligência, logo se emprega na Editora Saraiva, e viaja o mundo. Lembro-me que importou, há muitos anos, uma TV em cores 40’’ (no Brasil ainda não captava o sistema PAL-M) com controle remoto, pacotes de malte e cereais (para a confecção de um bom scoth caseiro), filmadoras de imagens coloridas já portáteis, e muitas outras novidades que, representavam avanços tecnológicos da época. Aposentou-se naquela afamada e próspera empresa como gerente geral. 
Certa vez, quando convidada para ser madrinha de casamento, chegou alguns minutos antes do cerimonial. Em cinco minutos produziu-se. Retirou de sua bolsa unhas e sobrancelhas postiças, juntamente com uma exótica peruca à chanell. Sempre arrojada, dinâmica e inquieta. Ela reside na rua Aliança Liberal, na Lapa, São Paulo. E um vizinho chamado César Augusto da Silva Lemos, irmão de Caio Cambalhota e Luisinho Tombo. Nosso César tem a alcunha de César Maluco. Não é para menos.
Desde sua chegada ao Palmeiras, 1966, até o último clube que defendeu em 1980, só aprontou. Ele foi o pioneiro das comemorações fora do gramado. 
Os imponentes e seguros alambrados dos estádios eram poleiros banais para suas estripulias. Dava entrevistas, declarações bombásticas e muito humor nos microfones abertos, quando dos seus inúmeros gols já feitos. De vez em quando brincava com um cassetete ou capacete dos sérios soldados da Polícia Militar. Certa vez, depois de um gol decisivo no campo do adversário, irritou-se com uma guarnição e quebrou o pau.
Foi preso na mesma hora. Alguns minutos depois, com um impetrante de hábeas corpus, sui generis, para o caso, libertou-se, fez um gol novamente e aprontou outra. Foi julgado dias depois e foi condenado.
O futebol paulista, naquele ano, sentiu falta do espetáculo. Do artilheiro e do palhaço. A César o que é de César, um ano de suspensão. Nesse período ele ensinava futebol aos leitores de uma renomada revista esportiva. E quebrou um tabu: treinava futebol na Casa de Detenção em São Paulo, alegrando e desentediando os detentos, mas também torcedores de algum time de futebol. Não foi convocado para Copa de 70, pois os milicos escolheram dois centroavantes de comportamento diferente: o tímido Tostão e o caladão Roberto Miranda.
Em 1998 fui à cidade de Aguaí assistir a uma partida de futebol entre a seleção da cidade e o time dos Milionários (verdadeira seleção de craques do passado), e César, o Maluco, estava presente. Dirigi-me até ele e perguntei-lhe se morava na Lapa, naquela mesma rua. Disse que sim. Então perguntei se conhecia minha prima Narciza. Ao que ele respondeu prontamente:
- Ah, a Narciza Louca? Claro, claro que sim.

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