Uma das primeiras lições que se estuda numa Escola de Adiantamento Mental é que não há evolução sem ética. E que essa ética não é etiqueta, parecer polido, educado, simpático, ao invés de sê-lo verdadeiramente. Ser ético é ser humano na verdadeira acepção da palavra; ser capaz de valorizar a vida de relação como uma lição para o aprendiz que pretende aperfeiçoar-se, completar-se. O ser humano é uma figura plena de possibilidades, mas incompleto. Desde o instante do nascimento para este pequeno mundo chamado Terra tem a grande oportunidade de completar-se, de aperfeiçoar-se. E nesta aventura grandiosa, epopéia magistral na qual poderia transformar a existência, tem a ilimitada possibilidade de aprendizado na convivência com os seus semelhantes, pais e irmãos, depois com os amigos da infância e da adolescência, a família, os filhos, os colegas de trabalho, a sociedade. Há tanto que aprender com os outros e um pouquinho para ensinar também.
Dar muito de si e não esperar nada dos outros talvez seja uma fórmula de felicidade, de sabedoria. Podemos aprender com todos, mesmo com aquele que não é muito simpático. É fácil dizer: “Aquele me incomoda, não quero vê-lo mais.” O que incomoda não é o outro, senão algo dentro de nós que está de cabeça para baixo. Não queremos tolerar nada dos outros, mas queremos que todos tolerem tudo de nós. Não há maior escola que a vida de relação. Aquele que nos incomoda é o melhor professor que pode nos ensinar a olhar para nós mesmos e analisar os nossos aborrecimentos. Grande mestre do qual nos afastamos por nossa incompreensão.
Sim, não há evolução sem ética; e um dos princípios dessa ética deveria ser enfrentar os fantasmas interiores que nos afastam das pessoas que nos incomodam. A adversidade é uma grande mestra; esses incômodos deveriam ser também. Quantos projetos e vidas perdidos por aborrecimentos inúteis! Quanta incompreensão! Quanta perda de tempo! Por que o homem não se encontra? O que lhe falta para completar a sua figura?
Numa conferência pronunciada em Montevidéu há muitos anos, o pensador González Pecotche afirmava: “Isto sucede com todos; sejam ricos ou pobres, bonitos ou feios. Uns têm o que a outros falta; e o que para uns falta, outros têm. E a grande questão reside no seguinte; ninguém quer dar ao outro o que tem, porque pretende que o que tem é melhor que o que lhe falta e o outro tem. E neste labirinto de comparações dos fragmentos humanos é onde se encontra a maior causa das dissensões, e, por sua vez, de onde parte a equivocada posição de todos os seres, sem exceção, o que se poderia definir com uma só palavra: incompreensão”.
Assim, uma nova ética implicaria uma revolução comportamental, equanimidade no juízo dos próprios valores e nos dos demais para ser mais humano, menos pretensioso; saber olhar, ouvir, melhor julgar, para poder evoluir. Mas não basta querer bem conviver, senão saber.
Conhecer o que dificulta o bom relacionamento e procurar mudar a conduta, os pensamentos que dificultam aquela arte: impaciência, brusquidão, indiscrição, irritabilidade e intolerância devem ser transformadas nas virtudes necessárias como a paciência, a contenção, a discrição, a temperança e a tolerância. A grande oportunidade que se tem na vida, agrega o pensador, é a de conviver. E nela, outras duas: não molestar os outros e não se deixar molestar. Não é fácil, nem impossível. É necessário querer e aprender com quem tem o que ensinar. Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo, disse certa vez um célebre hindu. O outro deveria ser para nós um espelho, nossa imagem refletida mostrando-nos como não deveríamos nos comportar ou nos dando um exemplo a seguir. O outro é muito importante; mesmo o inimigo que prova a têmpera de nosso espírito. Quem não quer ter inimigos, melhor seria que não tivesse nascido, escreveu certa vez o pensador. Inteligência pressupõe boa convivência. A ética se fundamenta na moral construída a partir do cultivo de bons sentimentos: gratidão, amizade, generosidade. Ser grato por existir, generoso ao ensinar o que se aprendeu, e amigo.
Como bem escreveu Emerson, a melhor forma de ter amigos é ser amigo. A ciência do aperfeiçoamento consiste na prática constante de princípios superiores que preservem a espécie através do cultivo de pensamentos e sentimentos que elevem o homem a níveis superiores de consciência. Neste sentido, a convivência é um campo experimental de inestimável valor. Quem não convive não vive.
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