Ai de ti, América Latina!


Marcelo Augusto da Silva

Se alguém chegou a pensar que somente nas décadas de 1960 e 1970 a América Latina era vista como um pedaço de continente onde grupos ultraconservadores e o furor capitalista dos EUA impunham, através de golpes de Estado, o seu modelo capitalista a favor deles mesmos, se enganou por completo.
Apesar de muitos avanços em várias áreas e setores e o repúdio de pessoas e da comunidade internacional a respeito dos golpes, eles continuam acontecendo, como foi o caso de Honduras há poucos dias.
País pobre da América Central exportador de produtos primários como a banana e o café, teve no dia 28 de junho seu presidente, José Manuel Zelaya Rosales, deposto e exilado, sendo retirado da sua própria casa ainda de pijama pelas Forças Armadas daquele país. Lamentavelmente mais uma vergonha causada pela raça humana em nome da preservação de seus privilégios financeiros.
Como sempre os golpistas apresentaram um motivo “justo” para esse tipo de ação: neste caso, a justificativa foi que Zelaya, em exercício, havia marcado uma consulta aos hondurenhos onde pudessem, nas eleições gerais de novembro deste ano, optar também pela convocação ou não de uma Assembléia Constituinte. A medida serviu de pretexto para acusá-lo de tentar violar a Constituição, uma vez que naquele país ela não pode sofrer nenhuma alteração. A falsidade se fez ao afirmarem que dessa forma Zelaya tentaria mudar a Constituição para poder se reeleger, mecanismo não permitido em Honduras. Essa estratégia foi usada para mascarar os reais motivos do golpe.
Zelaya, presidente tipicamente representante da direita hondurenha, é um latifundiário, usa bigode e um grande chapéu branco; vive da criação de gado e da exportação de madeira, mas que de repente inverteu o discurso e começou a tomar medidas voltadas as áreas sociais. Essa nova postura fez com que os grupos dominantes como a Igreja Católica, empresários, latifundiários, executivos de empresas bananeiras e partidos políticos tremessem de medo do que seria possível ser feito contra eles nessa administração. Zelaya afirmou que não vai se curvar diante dos golpistas; ele não aceita a deposição e assume que vai lutar com todas as forças para voltar a ocupar seu cargo. Nessa semana ele se encontra na embaixada brasileira em Honduras, já que Lula deu apoio a ele. Os golpistas por sua vez colocaram as Forças Armadas cercando o prédio e dizem não permitir a sua retomada por questões de garantirem dessa forma o bom funcionamento do país.
Se Zelaya abandonou o discurso conservador e mesquinho que a direita carrega e começou a tentar diminuir os efeitos nocivos do neoliberalismo que ele mesmo colaborou em ser implantado em Honduras, quem sabe ele mantendo-se firme na sua decisão e consiga não recuar diante desse ato ilegal e, voltando à presidência ele possa silenciar aqueles que tentaram livrar-se dele.
O governo interino que assumiu após o golpe, mais aqueles que o apoiaram, possa sim ser considerado uma ameaça à legitimidade e à legalidade do país; a volta de Zelaya ao poder seria um exemplo que muitos gostariam de ver acontecer.

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