Artigo: Cinema Nacional - “Podecrer!”



O mundo há de concordar que o cinema nacional está em ótima forma. Desde O Quatrilho, Central do Brasil (esse com certeza todo mundo viu e relembra do triste episódio em que La Vita... abocanhou o Oscar e deixou o Brasil pra trás), os engraçados O homem nu, O auto da compadecida, Lisbela e o prisioneiro, o dramático e cheio de ação Cidade de Deus, até os atuais Cinema, Urubus e aspirinas, Saneamento Básico e o polêmico Tropa de Elite, enfim, uma longa trajetória de anos em que os filmes brasileiros se destacam.
Agora é a vez da comédia teen Podecrer!, feito exclusivamente para gerações que viveram o início dos anos 80.
O filme de Arthur Fontes, que estreou no final do ano nos cinemas, fala sobre a geração de jovens que viveram sobre o regime militar mas já com uma certa abertura.
O diretor mostra, nas telas, conflitos de famílias tradicionais e mais liberais, numa época de grandes mudanças. Meninos sonhavam em formar uma banda e ganhar o mundo (anos 80 foi a época das bandas de garagem), mas se deparavam com a cobrança por responsabilidades mais sérias.
Podemos encontrar quadros ocorridos no mundo durante essa fase, como a era Ronald Reagan nos EUA e o início do liberalismo econômico logo após a queda do bloco comunista, o que levou ao atual mundo global. Essas passagens são contadas de forma muito tênue, mas que pode ser vista num ângulo mais forte através do comportamento mais marcante da sociedade: a juventude.
Outro aspecto que também merece comentários é a ótima trilha sonora que por si só bastaria para narrar toda a história. Organizada sistematicamente, mostra uma época em que se ouviam muito rock e também o reggae filosófico de Bob Marley (para os mais puritanos, há a presença de cigarrinhos de maconha sim).
Fontes se baseou no livro de Marcelo O. Dantas, que também assina o roteiro, embora deixe todos os créditos para o diretor. A influência do francês François Truffant também é evidente, principalmente no final em que há uma falsa impressão de felicidade, em que os personagens, embora acabem com um final feliz, se analisados mais profundamente, assimilam perdas porque o tempo passa e o que resta são só lembranças.
Curiosidades: Podecrer! é o nome da banda inspirada em Bob Marley. Lulu Santos faz uma ponta no filme como o diretor do colégio. A história se passa em 1981 e a redenção ao roque juntamente com o nascimento do bebê do protagonista foi propositalmente inseridos no longa como uma metáfora do nascimento do amor à música pop-rock que predominaria aquela década. Dado Villa-Lobos (ex Legião) é o responsável pela maior parte da trilha. Há nomes como Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tim Maia, Secos e Molhados, Frenéticas, Telma Houston, entre outros que compõe o som. O final feliz em que todos se dão bem pode ser encarado como a angústia saudosista de um tempo que foi bom. A crítica chegou a dizer que é um caso em que a trilha sonora supera o vídeo, mas mesmo assim é bom e vale a pena ser visto.

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