ARTIGO


A passividade feminina

Marcelo Augusto da Silva

marcelo3151@itelefonica.com.br


Logo em seguida à comemoração do Dia Internacional da Mulher, foi divulgada a notícia de que o governador de Nova York, Eliot Spitzer, conhecido pelo apelido de “Eliot Ness” por sua cruzada contra o crime, estava envolvido numa rede de prostituição; um episódio que vai na contramão do significado do dia 8 de março. Mas, afinal, o que tem a ver esse fato com o Dia Internacional da Mulher? Pois bem, a institucionalização da data serve não só para lembrar que as mulheres existem, mas sim como um momento em que se deve parar e refletir sobre o seu papel e a sua importância como ser humano e como ser sociável; bem como comemorar as suas conquistas após anos de subjugação e mostrar que ainda há muito preconceito que deve ser rompido. Acontece que não é a primeira vez na história recente dos EUA que um homem público é apontado por estar envolvido em um escândalo sexual, e esse último, assim como os demais, levou a esposa ao seu pronunciamento de pedido de desculpas na televisão, ficando a cônjuge ao lado do marido acusado. Tal atitude transmitiu uma imagem passiva, conformista e submissa do sexo feminino, na qual a mulher deve aceitar essa condição com toda resignação, ou então que o papel dela é submeter-se aos “deslizes” masculinos ficando sempre com seu companheiro mesmo em situações extremas como essa.
O envolvimento de políticos estadunidenses em escândalos sexuais já não é novidade. A esse último caso junta-se o do Senador republicano de Idaho, Larry Craig que renunciou ao cargo após ser acusado de ter assediado um policial à paisana no banheiro de um aeroporto dos EUA; o Senador republicano David Ritter, que confessou ter sido cliente de um serviço de acompanhantes na capital norte-americana; o Deputado republicano Mark Foley, que foi acusado de enviar e-mails de conteúdo sexual para menores de idade; e o mais popular de todos, que é o do ex-presidente Bill Clinton, que chegou a passar por um processo de impeachment, depois de mentir sobre suas relações com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, a primeira-dama Hillary Clinton perdoou o presidente, e atualmente é pré-candidata democrata à presidência do país.
Acobertando essa enxurrada de casos de má conduta estão os valores que formaram a nação dos EUA que sempre foi arraigado na doutrina religiosa do puritanismo, cuja essência é valorizar ao máximo o capital - expressa na teoria da predestinação absoluta - na propriedade privada e na família. Porém essa última é uma falsa moral divulgada pelo país, que é evidenciada constantemente em momentos como o da semana passada. Já não há mais como negar que essa característica nunca fez parte do povo norte-americano.
É justo que numa acusação se dê a oportunidade de retratação, tentativas de explicação ou até pedido de desculpas do envolvido, mas o que se viu com o governador de Nova York na verdade foi a velha tentativa de jogar a sujeira debaixo do tapete, usando a figura feminina para encobrir a falta de decência.

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