CULTURA


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Quem já leu?

Carolina Vital Ortiz

Uma relação de amizade, respeito, amor, compreensão, tradição de todo um país e resgate de si mesmo e de quem está ao seu lado. Salvar (e ser salvo) é fundamental para uma boa qualidade de vida e, quando a oportunidade aparece, é bom não deixá-la escapar. Viver é uma arte que se conclui quando o ciclo da vida recomeça: família, relacionamentos, filhos, irmãos, sobrinhos, o único tesouro que temos são as pessoas que amamos. Uma chance de nos curarmos de todos os males é consertar os erros do passado. Para aqueles que acharam o parágrafo acima um aglomerado de clichês, percebeu como foi fácil se identificar com a história, pois a vida é isso: clichês, histórias que todos vivem ou alguém conhecido que vivenciou certa experiência. O que é fundamental e faz o diferencial, é a forma como esse fato é narrado. Quem leu o maravilhoso O caçador de Pipas sabe exatamente do que estou falando. Os escritor Kalled cria algo tão doce, fraterno e ácido, surreal (a parte em que Amir resgata seu sobrinho), paradoxos tão absurdamente reais, que a vida se confunde com a ficção. Para nós, na maioria das vezes arrogantes ocidentais, a obra é uma história com um enredo belíssimo e passagens curiosas sobre o distante cotidiano desse povo miserável, sofrido e arrasado: os afegãos. Cabul e suas paisagens montanhosas são os focos do desenrolar da história e, cada página provoca a catarse perfeita da obra. Imperdível, narra, como cenário secundário, a queda da Monarquia e a tomada do Taliban (uma das diversas facções comandadas por líderes regionais), mostrando todo o horror que a guerra civil causou no Oriente Médio. Toda a degradação material e miséria moral do ser humano são, algumas vezes, expostas. Há, também, passagens curiosas como a destruição das gigantescas estátuas de Buda e o ataque de 11 de Setembro de 2001. Tudo começa com a infância de Amir durante a monarquia. A paz e a tranqüilidade que uma família nascida em uma boa posição social podia ter. Passa rapidamente pelas quase duas décadas de guerra civil e ocupação soviética até chegar no ambicioso desejo Taliban de transformar o país numa sociedade islâmica pura (a influência do pensamento nazista é explícito no livro). A capital do Afeganistão, Cabul, é uma cidade de enorme importância durante esse período, pois a localização em que se encontra é estratégica: é um “portal” ligando o subcontinente indiano ao Sul da Ásia e as repúblicas da Ásia Central com o norte do continente. Podem ficar tranqüilos, isso não é um spoiler! Não tenho pretensão nenhuma de estragar o prazer da contemplação e a surpresa! Apenas quero deixar aqui a dica de uma leitura imperdível e dizer que em breve essa história estará nos cinemas. Sam Mendes, diretor de Beleza Americana vai dirigir o filme. Então, vamos ler o livro e aguardar para assistir na tela, torcendo para que o longa seja tão belo quanto a linda narração do autor sobre a história de amizade entre Amir e Hassan.

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