Emílio Antônio Duva
Nome: Dulcídio Wanderley Boschilla. Apelido no futebol: Alemão. Apelido no famigerado DOI-CODI: Juiz.
Assim Dulcídio Wanderley Boschilla seguia sua vida de árbitro de futebol, e de Policial Militar lotado no antigo DOI-CODI, um órgão de repressão dos anos de chumbo - 70. Dulcídio faleceu em 14.05.1980, aos 60 anos de idade, vítima de câncer generalizado, raro por natureza (dizem que acarretou muitas “pragas” pelo que fez na vida, mas...). Marcou muito na arte da arbitragem nos campos de futebol, deste país. Algumas passagens suas, se tornaram lendárias, tais como no jogo do Corinthians e Ponte Preta, onde expulsou o atacante Rui Rey, aos 5 minutos de jogo, na maior decisão que SP já viu. Motivo: “antes que ele (RUI REY) me mandasse para aquele lugar, já apliquei o cartão vermelho”, disse Dulcídio.
Certa vez, apitando São Bento de Sorocaba e Atlético de Campo Grande, sofreu uma baita dor de barriga. Suspendeu por momentos aquele jogo, dirigiu-se ao banheiro do vestiário e logo depois, aliviado, voltou ao jogo e acabou sendo aplaudido por toda assistência.
Comentou ele, certa vez, que teve que sair de um estádio, de camburão do exercito, e... disfarçado de mulher. “Rebolei e falei fininho”. Não desgrudava nunca de um cano 38,6 tiros, cano de quatro polegadas. “Meu fiel companheiro... ¨, balbuciava. Num Palmeiras e Portuguesa mandou que uma cobrança de pênalti fosse repetida por três vezes. No gol estava um tal de Emerson Leão, que acatou bonzinho, bonzinho as determinações da regra aplicada pelo Alemão. Que expulsou naquela partida TODO O BANCO DE RESERVAS DO PALMEIRAS, POR RECLAMAÇÃO COLETIVA.
Certa vez cruzei com Dulcídio entrando no mictório masculino (obviamente) da antiga CHURRASCARIA AGA, e questionei-lhe sobre o jogo fatídico do Corinthians e Palmeiras (decisão de 1974), e ele me responde: “seu time tava uma bosta naquele jogo. Nem com reza braba vocês ganhariam...”. E reclamão como sempre, comentou também que uma semana depois daquela partida, foi apitar no distante Estado do Piauí, e lá estavam os chorosos corintianos. “Pô, corintiano é que nem grama, dá em todo lugar”. Vinha sempre, e, com facilidade a São José, pois adorava as pescarias nos ranchos à beira Rio, deste privilegiado município. Gabava-se, e com toda razão, de que nunca precisou puxar-saco de ninguém em Sindicatos e Federações, para aparecer em escalas de arbitragem. Lamentavelmente nunca participou do quadro de juízes da FIFA.
Ele contou certa vez, que trabalhava como escrivão no DOI-CODI, e que “registrava” nomes fantasmas de muitos desaparecidos políticos em São Paulo. Outrossim, foi citado em 1975 por 34 presos sobreviventes, que o tal de “Juiz” nunca participou diretamente das torturantes sevícias. Coisas da bola, coisas da vida...
Ofereço esta crônica ao amigo e companheiro de bate-papo no bar do DADÁ, o querido EURÍPEDES.
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