Garrincha - um anjo, um deus, ou um demônio de pernas tortas? Parte 2


Emílio Antônio Duva

Vocês se lembram de Charles Chaplin em ‘Luzes da Ribalta’ fazendo o número das pulgas amestradas?”. Era assim que o cronista esportivo Nelson Rodrigues via Garrincha, um dos maiores gênios da história do futebol mundial, que faleceu no dia 20 de janeiro de 1983.

Caríssimos leitores, então o nosso referendado protagonista começou a ter uma vida de destaque. Dentro e fora dos campos.
Comenta-se, até hoje, quando Mané adquiriu um rádio de pilhas, na Suécia em 1958, por 1.500 dólares, e que ao ligá-lo, logicamente, as transmissões não foram entendidas por qualquer brasileiro. Então Mané reclama para Djalma Santos. Este já sacando a ingenuidade, diz que o rádio estava com defeito, e que por isso Mané não iria conseguir ouvi-lo no Brasil. Com isso, Mané resolve vender o radinho por 100 dólares, entendendo que ele não iria “falar brasileiro” e assim acreditando ter realizado um excelente negócio ao dispô-lo. Chegando ao Brasil, devolveram o rádio a Mané, já com a Rádio Nacional radiando, na voz de César Ladeira, a hora em que “os ponteiros se encontram...”
Ainda em 1958, foi realizado um teste psicotécnico, onde Mané foi reprovado, pois não conseguiu fazer um circulo - que se referiu a uma “bolinha”, que parecia com a “cabeça do seu famoso colega de Botafogo... Quarentinha”. Imaginem, se Q.I. (Quociente de Inteligência) fosse preponderante para as convocações dos jogadores de futebol para as disputas das Copas de 1958 e 1962, nossa seleção estaria desfalcada do memorável camisa 7. Nosso primeiro Carlitos...
Eis que as luzes da ribalta começaram a instigá-lo às mudanças de comportamento. Abandona naquele bairro longínquo de Pau Grande, Dona Nair, com suas oito filhas. Atira-se aos braços da fogosa cantora Elza Soares. Colocou mais charme em sua vida aderindo ao uso do cigarro e... da malfadada bebida, que um dia iria consumi-lo, levando-o a miséria, a doença, ao esquecimento e a degradação humana. Com Elza Soares ele teve mais 2 filhos, que iriam morrer tragicamente. Além dos pontapés de seus cruéis marcadores, nosso deus Mané Garrincha (um dia teve também o apelido de Gualicho, que era o nome de um cavalo espanhol que sempre chegava em primeiro lugar nas corridas, realizadas no fulguroso Jockey Club do Rio de Janeiro) começou a receber doloridas agulhadas nos 2 joelhos, para rápidas recuperações técnicas e físicas, pois o Botafogo o explorava em amistosos rentáveis de cruzeiros e dólares pelo Brasil e pelo mundo.
Certa vez, num amistoso na Paraíba, contra o Botafogo local, Mané sumiu dos demais jogadores. Procura e procura, e nada do Mané. Até que uma pessoa chega a Zagallo e diz que o botequinho perto do estádio, estava lotado de gente vendo e ouvindo um tal de Garrincha tomar umas pingas e contar histórias hilárias.
A cidade perigosa e maravilhosa do Rio faz com que Mané se tornasse um deus. Com Elza Soares ao seu lado, então, não tinha para ninguém. E foi numa viagem ao interior do estado fluminense, com Elza e a sogra, dentro de um Simca Chambord, que Garrincha acaba virando manchete policial. Provoca um acidente automobilístico, matando a mãe da cantora.
Logo depois do acontecimento trágico, muda de ares, desembarca em São Paulo, nos seios da maior e fiel torcida do Brasil, a do Sport Club Corinthians Paulista. Mas, esta já é outra história. Até a próxima semana, e grato pela atenção dispensada.

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