Eu e o Futebol: Milésimo Gol


Emílio Antônio Duva

E naquele novembro de 1969, o imenso continente brasileiro receberia a visita abençoada, mais uma vez, de Albert Sabin. A metrópole paulistana assistiria aterrorizada (ou aliviada?) a execução de Carlos Marighella, fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN), criada para combater a ditadura.
No sul do país, nascia Leila Lopes, em primeiro ensaio de nudez. Mas no futebol a emoção estava marcada para aquele formidável 19 de novembro de 1969 onde, no estádio do Maracanã, o negro mais famoso do mundo (viu Obama...?) marcaria seu gol de número 1.000.
Mas, dias antes, o Santos Futebol Clube teve que realizar um amistoso na Paraíba, contra o Botafogo local, e o negão da camisa 10 fez um gol de pênalti, ele foi substituído em seguida, pois do jeito que estava fácil, faria mais um, e seria o milésimo. E naquele estado, sem nenhuma expressão no futebol, não seria o palco ideal para tal feito. Na próxima partida, dia 15, cumprindo jogo pelo Campeonato Brasileiro, o alvinegro praiano enfrentou o E.C. Bahia, na Fonte Nova.
Pelé, com 999 gols. Jogo duríssimo. O Bahia insistia em querer derrotar o adversário paulista. E num lance de contra-ataque, Pelé dribla 2 jogadores, e o goleiro também – o gol ficou vazio. Pelé, então, toca a bola no canto, onde fatalmente ela entraria e... bingo... gol 1.000. Mas o gol histórico não aconteceu.
O recém falecido zagueiro Nildo, conseguiu de carrinho, tirar a bola, jogando-a para escanteio.
Resultado. Nildo recebeu a maior vaia que o Bahia já ouviu. Pois todos os conterrâneos de Rui Barbosa e Castro Alves estavam presentes aguardando que o gol 1.000 fosse registrado naquele estádio. Frustração geral. Placar do jogo: 1 a 1. E chega a noite de quarta-feira, 19, de novembro. O homem se preparando para chegar à lua pela segunda vez; e as 23h11, no Rio de Janeiro, um mineiro do Três Corações, envergando uma jaqueta de um clube paulista, marca o pênalti. No goleiro argentino, o mundial milésimo gol foi dedicado as criancinhas – fatos e fatores consumados.
Quarenta anos após, me pergunto: e aquelas criancinhas?
Muitas já morreram de todas as formas. De maneira natural, acidental, assassinadas. Algumas foram presas, outras esquecidas nos leitos de hospitais, nas sarjetas. Há aquelas já estupefatas de caviar e whisky... oponentes no Congresso Nacional. Enquanto outras já estarrecidas de crack, maconha e cocaína. Nesse processo, algumas poucas foram decoradas, outras continuaram sempre desempregadas.... sem teto, sem camisa, sem carinho. Outras já cansadas de tanto serem chamadas de contribuintes, enquanto outras não contribuem nada, mas colaboram com a miséria, com a ganância - “geraldinos”, “arquibaldos” e “vivaldinos”.
Coisas da bola, coisas da vida, coisa deste país.

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