Heleno de Freitas - Final


Emílio Antônio Duva

E o Brasil então viu realizar a primeira Copa do Mundo. E o mundo inteiro acompanhou o choro do Maracanazzo - Uruguai vence o Brasil por 2 a 1 na fatídica final de 1950.
Heleno declara aos ouvidos de Flávio Costa (técnico da seleção) que se estivesse em campo aquela tragédia não teria acontecido. “Conheço a artimanha uruguaia. Comigo em campo não aconteceria nada daquilo”.
Na Seleção Brasileira, Heleno de Freitas jogou 18 partidas e marcou 15 gols. Retorna ao Brasil. Casa-se com a jovem Ilma, com quem teve um filho, Luís Eduardo.
Neste casamento recebeu um presente de um amigo chamado Vinícius de Moraes. O presente era nada mais, nada menos do que o texto original do “Poema dos Olhos da Mulher Amada” – que virou clássico da MPB e foi gravado por Maria Betânia e Silvio Caldas.
No entanto, o casamento não perdura. Aterrorizada pelo comportamento sifilítico de Heleno, Ilma acaba fugindo para Petrópolis. O distanciamento do casal faz com que o filho soubesse do pai só aos 10 anos de idade.
Em 1953 é aconselhado a mudar-se do Rio para uma cidade mais tranqüila. Escolhe a perola do atlântico paulista – Santos.
Mas, nada adianta. No seu primeiro dia de treinamento estoura um saquinho de biscoito na cabeça do treinador Aimoré Moreira. Disse que para ele, biscoito (apelido de Aimoré) ele só conhecia um, os da marca Aymoré. Imediatamente arruma as malas e sobe a serra e volta para o Rio de Janeiro, onde assina contrato no América. E realiza um sonho: jogar no Maracanã.
Mas leitores, pasmem, foram só os quinze primeiros minutos do primeiro tempo. Ele acabou sendo expulso de campo por ofensas, reclamações, ameaças e jogo violento.
No vestiário, descontrolado, ainda tentou agredir um fotógrafo. O jogo foi realizado no dia quatro de novembro de 1951, contra o São Cristóvão pelo Campeonato Carioca. A partida terminou 3 a 1 para o São Cristóvão.
Sem condições de continuar como atleta, abandona o futebol, mas abraça à noite carioca. Triste fim de sua trajetória esportiva.
Consome lança perfume, ama intensamente todas as mulheres, que ficavam entorpecidas pelo seu perfume, que se perdiam na sua juventude. A sífilis e o éter passam, então, a serem seus companheiros, destruindo cada vez mais seus neurônios.
Certa vez resolveu aparecer num treino do Botafogo e foi direto a caixa de voltagem do estádio General Severino, e quis se eletrocutar.
Então, aquele assíduo freqüentador do “gold room” do Copacabana Palace, dos ternos de linho branco e reluzentes, Cadilacs, terminaria os seus últimos seis anos de vida em um sanatório em Barbacena (MG).
Obeso, inchado pelos fortes medicamentos, dentes quebrados, maltrapilho e de olhar perdido num horizonte que somente ele e a sua loucura enxergavam, falece sozinho no dia 8 de novembro de 1959 com o Botafogo no coração. Uma estrela... solitária.
Apagam-se as luzes da ribalta, termina o grande espetáculo... da bola e da... vida.
Que Heleno de Freitas descanse em paz.

Nenhum comentário: