Eu e o Futebol: Heleno de Freitas Parte II


Emílio Antônio Duva

Corria o ano de 1943 e Heleno de Freitas mostrava-se diferente em tudo e de todos. A maioria dos jogadores esforçava-se nos gramados por resultados melhores e conseqüentes prêmios polpudos. Heleno era o craque do Botafogo. Nos treinamentos chegava de terno, bem vestido, cabelo bem penteado. Jogava xadrez, falava sobre política internacional. Quando, de folga, não indo às boates da época, trancava-se em seu apartamento e ouvia programas educativos e noticiários no velho rádio Telefunken. Os anos se passavam e o vaidoso Heleno fazia sua carreira de sucesso com gols e homéricas expulsões. Reclamão ao extremo, não titubeava em mandar torcidas, adversários e árbitros a lugares nada poéticos. Aquele jeito vistoso e rebelde não era por acaso. Um pequeno distúrbio (mental) começava sempre sem que ninguém percebesse. Confundia tudo e a todos, pois não gostava de perder, nem em treinos. Aguerrido, porém fora do normal. Os jornais e rádios da época questionavam sua dupla personalidade, mas nunca era tratado como um “louco” patológico. Porém, a maldita sífilis iria exterminá-lo tempos depois.
Em um jantar externa sua rebeldia, algo fora dos padrões da época. Algum colega, sabendo que ele não gostava de cebolas, resolveu colocar em seu prato, sem que ele visse, uma porção delas. Ao vê-las em seu prato, levantou, esbravejou e em seguida atirou o prato, com toda força, contra uma parede próxima, ferindo uma pessoa com os cacos.
Detestava cebolas, pois elas causavam forte odor, tirando o leve perfume que o incrustava naquele corpo atlético. Resultado: suspenso por dois meses, e o Botafogo fez péssima campanha naquele ano.
A torcida o clama por ídolo. Sua privacidade começa a ser invadida, e ele começa a agredir pessoas. Sempre perdoado. Mas, uma dessas pessoas jamais o perdoou – seu ex-técnico Flávio Costa. Sim Flávio Costa que não o convocou para Seleção Brasileira.
Em contrapartida, seus admiradores intitularam-no de Diamante Branco. Tentaram afagar seu intimo perturbado, no entanto não o convenceu. E tome declarações afoitas e indigestas. Numa das sempre acaloradas entrevistas, proporcionada pelo próprio Heleno de Freitas, em plena excursão do Botafogo em Montevidéu, capital do Uruguai, disse aos microfones e flashs, que seu desejo era de jogar no Vasco da Gama.
A declaração repercutiu mal entre a nação botafoguense. Após as declarações e o fim da excursão, desembarca no Rio direto para São Januário.
Novo clube, novas encrencas, velhos dissabores e uma tentativa de homicídio contra seu desafeto maior: Flávio Costa. Acabou sendo transferidos para outros clubes - em 1949 defende o clube argentino do Boca Juniors e em 1950 o Atlético Junior da Colômbia.
Heleno de Freitas, nesta época, seria o brasileiro mais frustrado do mundo, pois imensamente gostaria de disputar as Copas de 1942 e 1946, fatos não ocorridos devida às ameaças e realizações de Segunda Guerra Mundial.
E o Brasil, pela primeira vez iria realizar sua Copa do Mundo. Sem Heleno de Freitas.
Continuaremos a terceira e última parte desta história na próxima semana. Até lá, caríssimos leitores.

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