Emílio Antônio Duva
Texto reproduzido da página http://blogdotorero.blog.uol.com.br/
Caro ex-presidente da República e atual presidente do senado José Sarney, é possível que nos próximos dias o senhor perca seu cargo. Acho isso difícil, já que os seus companheiros são muito, digamos, compreensivos com os erros alheios. De qualquer forma, pode ser útil já ir pensando num novo trabalho, e é por isso que lhe escrevo. O desemprego é uma coisa triste e não o desejo a ninguém. Ficar em casa vendo tevê seria muito ruim para uma pessoa tão ativa. E escrever seria pior ainda. Para todos.
Por isso, examinei atentamente sua história recente e me pus a pensar qual profissão seria mais indicada a Vossa Excelência. Cheguei a uma interessante conclusão: a saída é tornar-se presidente de um clube de futebol.
As vantagens são imensas. A primeira e mais óbvia é continuar a ser chamado de “presidente”. É um termo que afaga o ego, que satisfaz a vaidade, que vicia. Afinal, o presidente é aquele que está acima de todos, que manda em tudo, é aquele que tem o poder.
Mas há outras coisas boas. Por exemplo, não há que prestar contas a ninguém. Sim, às vezes existe um conselho fiscal, um grupo de diretores ou coisa assim, mas é muito raro que eles criem problemas. Geralmente são do seu próprio grupo. No futebol, o fato de Vossa Excelência receber irregularmente um auxílio-moradia de 3,8 mil reais seria deixado de lado.
Para algumas das tarefas do presidente do clube, o senhor estaria mais que gabaritado. Eles adoram, por exemplo, mudar os estatutos para poderem governar por mais tempo. E não podemos esquecer que Vossa Excelência, quando mandatário máximo do país, conseguiu prorrogar seu mandato em mais um ano. Muitos presidentes também adoram misturar suas coisas particulares com as do clube. Às vezes, o dinheiro, às vezes os funcionários. Assim, por exemplo, não haveria problema em que o mordomo da casa da sua filha Roseana fosse pago pelo Senado. As prestações de contas dos clubes também são um tanto obscuras e imprecisas. Assim sendo, os boletins administrativos secretos seriam uma inovação muito bem vinda ao futebol. Neste caso, a publicação de coisas como a nomeação de seu neto João Fernando, de sua sobrinha Vera Portela ou mesmo do namorado de sua neta para integrar o quadro de servidores do Senado não causaria problemas. Mas há mais coincidências entre os dois empregos, muitas mais. Li que a Fundação Sarney recebe um bom dinheiro de empresas estatais como a Petrobrás, que repassou 500 mil reais para patrocinar um projeto cultural que nunca teria saído do papel. Pois os clubes, mesmo devendo uma nota preta, recebem uma boa grana da Timemania.
Também é muito comum entre os dirigentes esportivos que amigos tornem-se inimigos e vice-versa. Ora, Vossa Excelência está mais que acostumado com isso. Antes, tinha Lula e Fernando Collor na conta dos adversários ferrenhos. Hoje, são fiéis companheiros seus. Nos clubes e na política, nunca se diz nunca. Enfim, fica aqui o conselho: caso o senado o dispense, sempre há o futebol.
Eu e o Futebol: a saída para Sarney
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