Artigo: Tim Burton e Johnny Depp juntos novamente


Carol Ortiz
cacal.ortiz@hotmail.com

O diretor gótico, dono das cores mais sombrias e do imaginário excêntrico junto com o ator mais caricato do cinema formam uma dupla imbatível. Foi assim em Edward mãos de tesoura, A lenda do cavaleiro sem cabeça, duas obras inesquecíveis pela produção. Dessa vez, estão de volta em Sweeney Todd: o barbeiro da rua Fleet. A história não é nova e já chegou a ser filmada em outra ocasião. Foi peça de teatro várias vezes até virar musical em 1979. Agora está nos cinemas e ganhou o Oscar de direção de arte esse ano, além de render uma indicação à Depp para a categoria de melhor ator. Imaginem um barbeiro, Benjamin Barker (Johnny Depp, óbvio) que é condenado a ficar 15 anos na Austrália, longe de seu amor. Após esse tempo, volta para Londres e reassume sua antiga barbearia, entretanto, ao invés de aparar as barbas, corta a garganta de seus clientes e os transforma em comida. Calma, não é mais uma fria e assustadora história de serial killer. Como todo filme de Burton, o aspecto visual do longa conta muito. A reconstituição de Londres de 1846 (época em que o livro foi escrito) é perfeita e encantadora. Johnny Depp é outro ponto positivo em cena: sua atuação é excelente. Sweeney Todd é uma mistura de sangue, humor, sombras, músicas e incômodo e, apesar de ser um musical (gênero já abordado nessa coluna), passa longe de canções melosas. Stephen Sondheim, compositor da trilha, afirma ter se inspirado em Psicose e Os Pássaros de Hitchcock para compor. O resultado de tudo isso é um humor nervoso, um misto de diversão e rejeição (talvez pela impactante idéia de canibalismo). Visualizem a situação de Lovett (Helena Boham Carter) uma vendedora de tortas que não consegue sucesso e de repente passa a negociar deliciosos quitutes com tamanho êxito que a procura é praticamente de toda Londres. Todos adoram o sabor inigualável da carne que ela vende (que, imaginem, é humana). E, detalhe, só vendem os cadáveres como comida porque não sabem onde colocar tantos mortos executados pelo barbeiro.
Apesar da idéia assustadora, escrita há quase 2 séculos atrás, trata de uma história de amor e Tim Burton sabe conduzir com maestria, passando longe do mau gosto. O roteiro é impecável (de John Logan, por sinal). Detalhadamente pensado, tudo se encaixa, inclusive a previsibilidade que propositalmente existe. É um ótimo programa, mas para públicos mais seletos. Lembre-se: precisa ter estômago forte e aceitação ao gênero musical. Mas, o filme é ótimo.

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