Psicologia: Que valor dou à comida?


Thereza Giorgi
tc.giorgi@uol.com.br




A ingestão de alimentos faz parte de um processo ligado a sobrevivência do ser humano. Desde o nascimento fomos condicionados a procurar comida frente às angústias e ansiedades. Quantas vezes quando éramos bebês ou crianças recebíamos comida quando chorávamos? Muitas poderíamos ter fome, mas outras, dor. Portanto, desde pequenos aprendemos indiretamente que a comida conforta na dor, na angústia, na solidão, nos momentos difíceis, ou seja, no mal estar. A ocorrência de tais fatos fez com que aprendêssemos a dar um valor “errado” à comida, mesmo que não quiséssemos aprender ou ainda, sem que tivéssemos percebido o que estávamos aprendendo. Um outro fator é que a comida tem um valor social muito grande: negócios são fechados ou começados em restaurantes, encontros familiares acontecem em volta da mesa (farta!), convidados são recebidos nas residências com jantares ou almoços que representam a hospitalidade do proprietário e etc. Na correria do dia-a-dia, as pessoas, principalmente nas cidades cosmopolitas, vivem cercadas de estresse e ansiedade. Quando há tempo para almoçar a procura é por restaurantes ou lanchonetes perto do trabalho, os quais podem não oferecer um cardápio saudável. O próprio estresse e/ou ansiedade podem ser, superficialmente, diminuídos com a ingestão de doces ou salgados.
Comemos porque sentimos fome. Esta por sua vez, pode ser ampliada para além do fisiológico. O ser humano tem fome de viver, conquistar e suprir suas carências biológicas (fome) e afetivas (emoções). Porém, a segunda não é saciada por alimentos sólidos, por isso, acabamos entrando num ciclo vicioso de comer, ter prazer imediato e em seguida, culpa e/ou frustração. As emoções que desencadearam o comer, desconhecidas na maioria das vezes, permanecem independente da quantidade de comida ingerida. O estado emocional necessita de outro tipo de “alimento”, que pode ser entendido com a busca do autoconhecimento, o qual propicia maior percepção do indivíduo em relação ao seu corpo, seus pensamentos, sentimentos... Isso por sua vez abre as portas para um maior autocontrole, mudanças de hábitos alimentares e de rotina. Aprender a perceber e a se observar é um passo para que se possa corrigir o valor da comida e aprender a lidar com os fatos que desencadeiam o beliscar e a compulsão.

Nenhum comentário: