Cultura: Caçador de pipas, filme x livro


Carol Ortiz
cacal.ortiz@hotmail.com


Cinema é, sem sombra de dúvidas, apaixonante, um dos estilos de arte mais encantadora que existe. Criar imagem, movimento, interpretar, escrever, focalizar a cena, a fotografia, construir uma época, enfim, é uma terra de sonhos que por algumas horas se tornam verdade.
Literatura é mágica. É uma, se não for a única, arte capaz de despertar todos os sentidos com duas únicas ações: escrever e ler. É possível através da leitura sentir o cheiro, visualizar rostos, sentir gosto da comida descrita, viajar nos devaneios das personagens e viver várias vidas durante a jornada literária. Esses dois encantos insistem em andar juntos. Uma vez disseram: “A arte imita a vida!”, mas não é só isso, o cinema e a literatura também se imitam, portanto a arte copia a arte também (complicado? Soa errado? Não...). É muito comum histórias virarem filmes, mas é raro (se não irreal, visto que não me lembro de nenhum caso assim) ocorrer o contrário. Aí podemos indagar: quem é o melhor, o livro ou o vídeo? Com raríssimas exceções (me lembro somente de um caso: Tempo de matar de John Grisham, em que o filme surpreendentemente superou o escrito), a literatura sempre sai na frente. Basta ver exemplos como o assustador O colecionador de ossos (o livro é aterrorizante), o épico O senhor dos anéis (esse merece um grande empate entre a obra de Tolkien e a de Peter Jackson), o gótico Drácula de Bram Stocker, e muitos outros.
Recentemente assisti O caçador de Pipas. Esse longa não fugiu à regra: impossível compará-lo com o original. Com bons atores, fiel à literatura, inclusive nos diálogos, por mais que tentasse não conseguiu mostrar a sensibilidade e beleza passada anteriormente. Tem alguns cortes desnecessários que foram de grande importância para o desenrolar da história. Falta um pouco da poesia e da lição de vida mostrada antes. Os diálogos, muitas vezes, são jogados sem nenhuma explicação. Há uma tentativa de passar o que o livro narra, mas falta uma amarração maior entre as seqüências.
Quem leu a obra poderá perceber esses detalhes facilmente. Quem ainda não leu talvez aprecie intensamente. Há certo valor, mas se frustra na tentativa de transmitir a beleza encontrada na narração original.

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