Eu e o Futebol: Um fantástico ponta-esquerda


Emílio Antônio Duva

Cá estamos nos anos 80. O mundo acompanhava, sem internet, mas pelos aparelhos de TV, a queda do Muro de Berlim, o Muro da Vergonha. Vimos pelo cinema os balanços de John Travolta, discotecas frenéticas. Os primeiros casos da Aids secando a fome de seres humanos ávidos pelos bons momentos do sexo. A anistia ampla geral e irrestrita dava as mãos às “Diretas Já” no imenso continente verde, amarelo, azul e branco, e, de todas as cores. O inesquecível João Paulo II sofre o seu primeiro atentado. Quantos agitos, quantos badalos e quantos tiros perdidos a acertados. E para distrairmos de tantas e tantos, a TV Brasileira faz desembarcar por aqui um israelita naturalizado britânico chamado Uri Geller.
O homem-fenômeno entortava e desentortava garfos, facas, e colheres. Atrasava e adiantava em ritmo rápido ponteiros de relógios. Isto tudo à distância. E uma palco de programa televisivo para os lares brasileiros, ele num dom paranormal ou ilusionístico, impressionou a crédulos, incrédulos, ateus e católicos. Sucesso total. E pelos gramados dos campos de futebol, precisamente no Rio de Janeiro, um jovem ponta esquerda do timaço do Flamengo de Zico, Adílio e Rondinelle, maravilhavam a tudo e a todos pelos seus dribles desconcertantes e suas mirabolantes... entortadas. Rapidinho ganha um apelido junto ao seu nome: Júlio CésarJúlio César da Silva Gurjol “Uri Geller”.
Laterais direito e beques centrais foram suas vítimas. E fatalmente os goleiros... Dia destes, ele esteve aqui em São José do Rio Pardo para um foro desportivo, junto com outros colegas. E desta lendária, folclórica e simpática figura conto o seguinte: numa passagem sua com o ex-goleiro Raul, num Mengo e América, numa tarde de sábado no Maracanã, poucas pessoas naquele estádio. Neste dia Júlio César (Uri Geller) estava completamente alienado, fora do compasso, quase sempre de costas para o campo. E o time do Mengão metendo bola para ele, para ver se acordava, se ficava inspirado, enfim, entortava a defesa adversária, fazer suas diabruras...
Terminado o primeiro tempo, Raul chegando à boca do túnel, grita para Júlio César:
- Pôo! Julinho, entra no jogo...
- Raul, nem te conto. A expressão precede uma confidência ao velho companheiro:
- Tem uma garota ali na geral me dando mole, cara. Ela é linda, maravilha, não consigo tirar os olhos... Vou ver se consigo o telefone dela, agora, no segundo tempo...
Coisas do futebol, coisas da vida, que somente os representantes dos Charles Chaplin pode nos proporcionar formidavelmente.

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