Eu e o Futebol: A bola e os livros


Emílio Antônio Duva

Todos nós, além de nossa inteligência nata, temos também os nossos particulares ou visíveis preconceitos. Como o fato que vou relatar e que ocorreu lá atrás, no ano de 1916.
A Seleção Brasileira de Futebol iria disputar o seu primeiro campeonato Sul-americano com os países vizinhos: Argentina, Chile e Uruguai. Este pioneiro e importante quadrangular seria disputado na hermana Buenos Aires, capital da Argentina – do tango, das milongas e das suculentas chuletas. Nossos atletas, no mínimo sonhavam com isso tudo e mais um poquito, pero que si, pero que no. O navio disponível para viagem era um tal de Júpiter, que levaria também a delegação Plenipotenciária do Brasil, que iria participar do Congresso de Centenário de Tucumán, na cidade de San Miguel de Tucumán, província de Tucumán, local onde foi proclamada a Independência Argentina em 1816. Ele tinha sido fretado para este fim,
no entanto, tinha apenas um terço dos seus camarotes ocupados. E a escassez de navios era tal... devido à Primeira Guerra Mundial. Em face disso, o Ministro do Exterior, o Sr. Lauro Miller, esboçou embarcar a delegação de futebol neste citado navio, e telefonou para o Conselheiro Ruy Barbosa, chefe da comitiva diplomática. Nosso prezado Ruy Barbosa dispensa apresentações. Além de jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor foi também um brilhante orador – que o digam os que puderam presenciar a 2ª Conferência da Paz, em Haia (Holanda) em 1907. Ele é dono de frases como: a pressa é inimiga da perfeição, a miopia intelectual é a mais constante geradora do egoísmo, mais que a tristeza de não haver vencido, é a vergonha de não ter lutado, as leis que não protegem nossos adversários, não podem proteger-nos, e outras mais.
Então ocorre o telefonema e o diálogo:
- Senhor Conselheiro, os jogadores brasileiros que irão para o Sul-americano de Futebol, também viajarão no Júpiter. Estou te telefonando para avisar minha decisão. No mesmo instante veio a resposta do “bom” baiano.
- Pois saiba senhor Ministro, a minha família e meus auxiliares não viajarão com esta corja de malandros.
- Mas nobre Conselheiro, eles são jogadores da nossa adorada Seleção.
- Futebolistas é sinônimo de vagabundos. E pode escolher imediatamente: ou eles ou eu.
O Júpiter acabou partindo sem os atletas, que tiveram de viajar de trem até a Buenos Aires querida, em cinco longos, duríssimos e cansativos dias. Eles chegaram no dia da abertura da competição. Coisas da vida, coisas do futebol.

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